As editoras habituais de Martin Amis na Alemanha e em França, respectivamente a Carl Hansel e a Gallimard, rejeitaram o seu mais recente romance, The Zone of Interest, a segunda incursão ficcional do romancista britânico na história do Holocausto após Time’s Arrow: Or the Nature of the Offence, de 1991.

Saudado pela crítica inglesa e americana como um inesperado regresso de Martin Amis à sua melhor forma, e considerado por muitos o seu livro mais interessante desde London Fields (1989), que já tem um quarto de século, The Zone of Interest passa-se em 1942 no campo de concentração conhecido como Auschwitz III-Monowitz, onde o conglomerado industrial I. G. Farben implantou uma fábrica de produção de borracha sintética.  

Amis imagina o quotidiano de Auschwitz III – referido no romance como Kat Zet , isto é, Konzentrationslager (campo de concentração) – a partir da perspectiva de três protagonistas: Angelus Thomsen, vulgo Golo, sobrinho do secretário particular de Hitler, Martin Bormann, Paul Doll, o comandante do campo, um sádico e alcoólico cuja mulher, Hannah Doll, tem um caso amoroso com Golo, e Szmul, um judeu polaco que dirige o Sonderkommando, uma unidade de prisioneiros que era obrigada a ajudar os nazis na tarefa de se livrarem dos cadáveres dos judeus gaseados nos campos de morte.

Parece bastante plausível que o facto de The Zone of Interest ter muitas passagens de registo ostensivamente satírico, e talvez também a circunstância de ficcionar uma história de amor entre nazis no próprio cenário do Holocausto tenha contribuído para a resistência que o livro provocou em alguns editores europeus. Mas nem a Carl Hansel Verlag nem a Gallimard assumem que a suas reservas se prendem directamente com o tema do romance e o modo como Amis o aborda. O seu editor alemão justifica a rejeição com o argumento de que o livro “não é suficientemente convincente”. A editora de Munique publicara os últimos cinco livros do escritor inglês e, até ao momento, nenhuma outra chancela alemã anunciou a intenção de editar The Zone of Interest.

Já em França, a recusa da Gallimard – que recusou comentar a sua decisão – levou a editora Calmann-Lévy a avançar, anunciando que irá publicar o romance. Curiosamente, esta mesma editora rejeitara o monumental romance As Benevolentes (2006), de Jonathan Littell, memórias ficcionadas de um ex-oficial nazi envolvido na organização dos campos de concentração e na execução dos judeus. Um romance que acabou por ser publicado pela… Gallimard.

Em Portugal, The Zone of Interest irá ser publicado pela Quetzal, que editou nos últimos anos vários outros títulos de Martin Amis. O editor Francisco José Viegas adianta que a tradução já está feita e que o próprio Martin Amis virá a Portugal por ocasião do lançamento do livro.