É mais um retrato da extensa radiografia que António-Pedro Vasconcelos vem fazendo do país, desde que, há quatro décadas, iniciou a sua filmografia de longas-metragens com Perdido por Cem (1973), acompanhando a deriva de um jovem da província na grande cidade, Lisboa.

Os Gatos Não Têm Vertigens é o novo filme do realizador de Jaime (1999). Como neste, continua a haver jovens perdidos na cidade, seja o Porto ou a capital. Jó (João Jesus) é um teenager que as circunstâncias da vida, e a desagregação da família, tornaram um delinquente. Rosa (Maria do Céu Guerra) é uma velha mulher que, uma noite, se vê viúva. O jovem vai parar ao seu terraço, sem tecto, mas com uma bela vista sobre o Tejo... 

É este o ponto de partida para uma improvável relação entre estes dois seres entregues a um destino que há-de tornar-se comum. O reconhecido pessimismo de António-Pedro Vasconcelos relativamente ao estado do país, do mundo e da civilização, mas sempre expresso numa inquietação militante e resistente, dá aqui lugar a uma história de queda e redenção, que espera encontrar eco no grande público das salas. O cinema não pode enganar as pessoas, mas também não deve retirar-lhes a esperança da salvação, de dias melhores… – costuma dizer António-Pedro Vasconcelos.

Os Gatos Não Têm Vertigens, que se segue a A Bela e o Paparazzo (2010), teve a antestreia esta segunda-feira à noite, num lotado Cinema São Jorge, em Lisboa. Vai chegar às salas no dia 25 de Setembro.