O filme franco-mauritano Timbuktu triunfa nos Césares

Obra de Abderrahmane Sissako mostra a vida quotidiana numa região do Mali controlada por jihadistas

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O realizador ladeado pela produtora francesa Sylvie Pialat e pela argumentista Kessen Tall AFP/MARTIN BUREAU

O filme franco-mauritano Timbuktu, de Abderrahmane Sissako, foi o grande vencedor da 40.ª edição dos Césares, conquistando sete dos oito prémios para os quais estava nomeado, incluindo os de melhor filme e melhor realizador.

Centrado numa comunidade do Mali cuja vida quotidiana é abruptamente transformada pela chegada dos jihadistas e a imposição da sharia, com as suas múltiplas proibições e os seus tribunais improvisados, Timbuktu não é propriamente um vencedor inesperado numa França ainda na ressaca dos atentados ao jornal satírico Charlie Hebdo e a um supermercado de produtos judeus.

O próprio primeiro-ministro francês, Manuel Valls, saudou, através da sua conta no Twitter, o “merecido mérito” deste filme que, sublinha, “é uma resistência à barbárie”.

No seu discurso de agradecimento, Sissako afirmou no teatro Châtelet, em Paris, onde decorreu esta sexta-feira a cerimónia de entrega dos Césares, que “a França é um país magnífico, porque é capaz de se levantar contra o terror, a violência e o obscurantismo”. O realizador defendeu ainda que “não existe um choque de civilizações, mas antes um encontro de civilizações”. Ausente do palmarés de Cannes, em Maio passado, e agora triunfante nos Césares, Timbuktu é um dos candidatos a ganhar, este domingo, o Óscar de melhor filme estrangeiro.

Além dos prémios principais – melhor filme e melhor realizador –, esta saga de uma família de pastores cuja pacífica existência é perturbada pelo conflito armado que se vive no Mali desde o início de 2012 venceu ainda os prémios para melhor montagem, melhor fotografia, melhor argumento original, melhor banda sonora e melhor música, deixando à concorrência pouco mais do que os prémios de interpretação.

O grande perdedor da noite foi Saint-Laurent, biopic do célebre costureiro francês, realizado por Bertrand Bonello, que tinha dez nomeações e conseguiu apenas o prémio para o melhor guarda-roupa. Mesmo Gaspard Ulliel, que interpreta o costureiro francês no filme de Bonello, viu o prémio para o melhor actor ser atribuído a Pierre Niney, que encarna a mesma figura noutro biopic do estilista desaparecido em 2008: Yves Saint-Laurent, de Jalil Lespert.

Apesar de só ter conseguido três dos dez prémios para os quais estava nomeado, Les Combattants, de Thomas Cailley, pode ser considerado o mais afortunado dos perdedores da noite. Cailley venceu o prémio para o melhor primeiro filme, Kévin Aazïs ganhou o prémio de melhor actor emergente, e Adèle Haenel conseguiu a estatueta para a melhor actriz, um feito considerável num ano em que estavam nomeadas grandes estrelas de várias gerações do cinema francês, como Catherine Deneuve, Juliette Binoche ou Marion Cotillard.

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