O enigma de Mona Lisa continua, apesar da tíbia e do fémur

Chefe de equipa de investigadores italianos diz ter localizado restos mortais numa sepultura em Florença que poderão pertencer a Lisa Gherardini, que se acredita ter sido a modelo da pintura de Leonardo da Vinci. Mas as dúvidas mantêm-se.

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O túmulo onde foram encontrados restos mortais que os investigadores admitem poder ser de Lisa Gherardini DR
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Escavações no interior do convento de Santa Úrsula, em Julho de 2012 ANDREAS SOLARO/AFP
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Mona Lisa no Museu do Louvre JEAN-PIERRE MULLER/AFP

Não foi ainda desta vez que ficou resolvido o enigma da Mona Lisa. Apesar de o investigador italiano Silvano Vinceti acreditar estar no bom caminho na sua tentativa de identificar a mulher que terá sido a modelo para o famoso quadro de Leonardo da Vinci (1452-1519), os resultados da sua investigação ficaram aquém do desejado.

“É muito provável que tenhamos encontrado os restos mortais da Gioconda, e também há elementos convergentes que demonstram que descobrimos o túmulo de Lisa [Gherardini]”, disse o presidente do comité nacional para a valorização dos bens históricos e culturais, esta quinta-feira, numa conferência de imprensa realizada em Florença, no final de uma campanha de escavações iniciada em 2011 no convento de Santa Úrsula, no centro da cidade.

Na verdade, e ainda segundo os dados apresentados aos jornalistas, a única descoberta que alimenta a expectativa dos investigadores foi a identificação, entre os restos mortais nas sepulturas de doze pessoas naquele antigo convento, de uma tíbia e um fémur, cuja origem, datada pela análise por carbono 14, coincide com a época em que viveu Lisa Gherardini (1479-1542), a mulher que muitos historiadores de arte consideram ter sido a retratada por Leonardo.

Na conferência de imprensa em Florença, Silvano Vinceti – que em 2010 se tornou conhecido por ter identificado os restos mortais de Caravaggio – reafirmou a sua convicção de que o túmulo encontrado será o da famosa Gioconda. “A certeza absoluta de que alguns dos restos mortais examinados sejam de Lisa Gherardini não a podemos afirmar, mas é muito alta a probabilidade de que o túmulo da Gioconda se encontre no antigo convento de Santa Úrsula”, disse o responsável italiano.

No mesmo encontro com os jornalistas, Giorgio Gruppioni, professor de Antropologia na Universidade de Bolonha, explicou que “com as técnicas actualmente disponíveis não foi possível proceder ao exame do ADN dos restos mortais do filho [de Lisa Gherardini], por eles se encontrarem demasiado deteriorados em razão das inundações do rio Arno”. E referiu "a decepção" sentida na equipa pelo facto de não ter sido encontrado um crâneo que permitisse "reconstituir o rosto" da Mona Lisa. "Mas não há nada a fazer", disse.

Na realidade, o que a equipa de investigadores conseguiu confirmar durante estes quatro anos de trabalhos – adiantou Gruppioni, citado pela AFP – foi a existência das doze sepulturas dentro da igreja que actualmente se encontra em ruínas. Desse conjunto, oito encontravam-se em bom estado de conservação, mas a sua análise pelo método do carbono 14 revelou que elas datavam de cerca de século e meio antes do tempo da vida de Gherardini. As quatro restantes estão praticamente feitas em pó, e só uma delas, a última a ser analisada, diz respeito a uma pessoa que viveu na viragem dos séculos XV-XVI.

O estado actual do desenvolvimento científico e tecnológico não permite ainda, notou Gruppioni, estabelecer uma relação definitiva do ADN destes restos mortais com os dos outros membros da família de Francesco del Giocondo (1465-1538), o rico mercador florentino que foi casado com Lisa Gherardini – daí o nome La Gioconda –, e que em Abril de 2014 foram identificados na Capela dos Mártires da basílica da Santíssima Anunciação, também em Florença, como agora recorda o correspondente do jornal espanhol ABC em Roma, Ángel Gómez Fuentes.

Entre esses restos mortais está o de Piero, o filho de Lisa e Francesco. Mas o estado de deterioração destes vestígios não permite estabelecer uma relação segura com a tíbia e o fémur agora encontrados no convento de Santa Úrsula. Enquanto não tivermos acesso a “uma nova tecnologia”, que o professor Gruppioni admite poder chegar “nos próximos anos”, vai manter-se o enigma sobre o retrato mais famoso do mundo, que actualmente se encontra no Museu do Louvre, em Paris.

Recorde-se, no entanto, que se a identificação de Lisa Gherardini como a modelo da pintura de Leonardo parece ser actualmente a que colhe maior consenso, há quem defenda também outras hipóteses, entre as quais está inclusivamente a de Mona Lisa ser o retrato de um homem, ou mesmo um auto-retrato do próprio pintor.

Pintada entre 1502 e 1504 – os defensores da tese da Gioconda crêem que o retrato foi encomendado por Francisco del Giocondo a Leonardo em 1503 –, a Mona Lisa terá sido transportada pelo próprio pintor, de Florença para França, em 1515, quando, a convite do rei Francisco I, aceitou estabelecer-se em Amboise, onde viria a morrer quatro anos depois. A pintura passou depois por vários palácios franceses – e chegou até a decorar o quarto de Napoleão Bonaparte –, até chegar ao Museu do Louvre.

 

 

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