História ao vivo com Brian Wilson

Brian Wilson será um dos motivos de atracção do NOS Primavera Sound. Mas haverá mais por onde escolher. A começar por PJ Harvey, que vem apresentar o seu elaborado novo espectáculo baseado no recente The Hope Six Demolition Project.

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Brian Wilson - Sexta-feira, 20h Eric Pamies
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Pj Harvey - Sexta-feira, 22h35 Eric Pamies

Diz-se que será a sua última digressão. E não surpreenderia se fosse se pensarmos que Brian Wilson está com 73 anos. É uma ocasião única vê-lo em palco por estes dias. Não espanta pois que existam contornos emocionais muito fortes à volta da série de concertos sobre os 50 anos da edição do álbum Pet Sounds

Foi isso que aconteceu no fim-de-semana passado em Barcelona. Acompanhado por outro membro fundador dos Beach Boys, o guitarrista Al Jardine, pelo filho deste, Matt Jardine, que foi precioso nas ajudas vocais, e por mais uma dezena de músicos, Brian Wilson apresentou-se entre o alheado e o participativo.

Sentado ao piano, por vezes com uma expressão pálida, eram visíveis as marcas de uma vida complexa, e a sua voz fraquejou em alguns momentos. Mas o público também percebeu que mais do que um concerto de perfeição burocrata o que se jogava ali era a história da música popular e não se poupou nos aplausos. E em muitas ocasiões Brian Wilson surpreendeu, interagindo com imenso sentido de humor com a assistência, provocando-a até. 

Acabou por ser o concerto mais lúdico de todo o festival. A primeira metade foi totalmente preenchida com a exposição de Pet Sounds, com canções como Wouldn’t it be nice, God only knows ou Let’s go away for a while, muito próximas da sumptuosidade original, naquele misto de harmonias vocais e rendilhado instrumental, exalando céu-aberto mas também melancolia, como se esse disco expusesse o espirito de um homem solitário à procura da felicidade através da música.

“A minha banda é tão boa!”, exclamou às tantas, satisfeito, Brian Wilson, e isso sentiu-se também na segunda metade do concerto, quando foram interpretados muitas das canções que fazem parte da memória colectiva como Don’t worry baby, Good vibrations, Surfin’ USA, I get around ou Fun, fun, fun. No final a dúzia de veteranos músicos agradeceu a torrente de aclamações com que foram brindados por uma audiência que tinha acabado de assistir a uma original lição de história ao vivo.

Brian Wilson (sexta, 20h) será um dos motivos de atracção das noites de sexta e sábado do Nos Primavera Sound. Mas haverá mais por onde escolher. A começar por PJ Harvey (sexta, 22h35) que vem apresentar o seu elaborado novo espectáculo baseado no recente The Hope Six Demolition Project. Com ela estarão uma dezena de músicos, como Mick Harvey ou John Parish, parceiros de um espectáculo que se insere na tradição vibrante do rock, mas não fica prisioneiro dele, recriando-o. 

Outro concerto esperado é o das Savages (sexta, 21h25), depois de ali há três anos terem dado um espectáculo memorável e que elas ainda hoje guardam na memória como tendo sido próximo da perfeição. Há uma semana a dupla americana Beach House (sexta, 01h15) aproximou-se desse mesmo requinte em Barcelona, conseguindo conquistar um público que pouco antes se tinha abandonado aos Radiohead. Veremos como será no Porto.

O rock dos veteranos Dinosaur Jr (sexta, 20h20) ou dos Mudhoney (sexta, 23h30), o pós-rock dos Tortoise (sexta, 01h), o romantismo pop-jazz dos canadianos Destroyer (sexta, 18h50) de Dan Bejar, o krautrock revisto pelos ingleses Beak (sexta, 19h) de Geoff Barrow (Portishead), a electrónica desconexa de Holly Herndon (sexta, 01h20) ou o jazz-funk vibrante dos Floating Points poderão ser outros concertos a ter em atenção, divididos pelos quatro palcos.

No sábado serão os portugueses Linda Martini (sábado, 17h55) a abrir o palco principal, na noite em que muitas atenções se virarão para os Air ou para o rock ritualista dos americanos Battles (sábado, 21h10) e, noutra perspectiva, dos conterrâneos Explosions in The Sky (sábado, 23h50). Para configurações electrónicas de dança haverá de contar com os alemães Moderat (sábado, 01h), enquanto a pop dos nova-iorquinos Chairlift  rivalizará com o indie-rock dos Car Seat Headrest (sábado, 21h15) ou com o rock sem maneiras de Ty Segall. Para outra lição de história, desta feita sobre as mesclas electrónicas no pós-punk dos anos 1980, haverá de contar com os britânicos AR Kane (sábado, 23h30).É caso para dizer que a história do presente e de um passado vivo estarão em evidência no Parque da Cidade do Porto.

 

O PÚBLICO viajou a convite do Primavera Sound

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