Hindemith revisited

Paul Hindemith: um conhecimento prodigioso dos instrumentos.

Foto
Paul Hindemith: um conhecimento prodigioso dos instrumentos DR

Paul Hindemith (1895-1963) foi um dos mais destacados autores da primeira parte do século XX. Quando se constitui a específica noção de “música contemporânea”, com a fundação da respectiva Sociedade Internacional, e até aos inícios dos anos 50, eram Stravinsky, Schönberg e Hindemith (mas não, curiosamente, Bartók) sempre os apontados como expoentes discordantes e desavindos, se não mesmo “inimigos”. Mas, depois de ter sido um dos primeiros compositores irradiados pelo nazismo, Hindemith viria também a ser excluído pela narrativa canónica imposta pela vanguarda do pós-guerra. O declarado neoclassicismo das suas obras, passado o período iconoclasta e expressionista dos anos 20, foi o motivo da exclusão, que pela perenidade desse cânone ainda hoje se faz sentir: quantas vezes temos oportunidade de ouvir obras suas?

Hindemith foi um músico prodigioso no seu conhecimento concreto, não apenas compositor e maestro mas também violinista e sobretudo violetista, conhecendo as características próprias de todos — ou praticamente todos — os instrumentos. Essa é nomeadamente a razão de ser de duas colectâneas de obras suas, as sete Kammermusik, todas para diferentes agrupamentos e seis delas com diferentes instrumentos solistas (incluindo una rara viola d’amore) e as cinco Sonatas para Piano e… Althorn [fliscorne alto, outro raríssimo instrumento, da família dos saxofones], Violoncelo, Trombone, Violino e Trompete.

Ruhig bewegt Paul Hindemith

Conceber, escolher o grupo de parceiros e concretizar brilhantemente a realização da colectânea foi um empreendimento notável de Alexander Melnikov (que faz questão em acentuar a presença mesmo da Althorn e não de uma trompa substitutiva) com a cumplicidade do amplo e delicado violino de Isabelle Faust e sobretudo (já que, por características próprias, essas Sonatas com metais se destacam) de Van der Zwart, Costes e Berwaerts — as Sonatas com Trombone e com Trompete são mesmo um esplendor sonoro.

Sucede todavia que a Sonata com Violoncelo tem características diferentes, desde logo porque foi uma encomenda do grande virtuoso Gregor Piatigorgsky, quase com carácter concertante para esse instrumento, e que Alexander Rudin não está de modo nenhum à altura do desafio — antes pelo contrário, mais se diria uma sonata para piano com violoncelo obbligato, acompanhando.

É esse o senão num disco precioso de uma colectânea rara e assaz interessante.

Sugerir correcção
Comentar