Greve põe em risco o Festival de Avignon

Intermitentes do espectáculo estão em protesto contra as novas regras de acesso à protecção no desemprego.

Foto
O director artístico do Festival de Aix-en-Provence, Bernard Foccroulle, está solidário com os intermitentes BORIS HORVAT/AFP

A concentração marcada para esta segunda-feira junto ao Palais Royal, em Paris, é só mais um sinal de que os intermitentes do espectáculo não estão dispostos a aceitar as novas regras de acesso à protecção no desemprego aprovadas a 22 de Março pelos parceiros sociais: desde o início do mês, vários festivais franceses (do Printemps des Comédiens, em Montpellier, ao Rio Loco, em Toulouse, passando pelo Uzès Danse) foram já cancelados em protesto contra o acordo. Uma batata quente que o Governo francês tem agora de decidir urgentemente se vai ou não ratificar. Não tem todo o tempo do mundo: o Festival de Avignon, o mais importante acontecimento cultural do Verão no país, começa já a 4 de Julho e está em perigo, como sublinhou na sexta-feira o seu director artístico, Olivier Py, à saída de uma reunião de emergência com a ministra da Cultura e da Comunicação.

"A determinação dos intermitentes para prolongar a greve é total", disse ao Le Monde, acrescentando não haver neste momento qualquer saída para o impasse a não ser a anulação do acordo de 22 de Março: "Se os festivais de Avignon e de Aix-en-Provence vierem a ser anulados este ano, as edições de 2015 e de 2016 também ficarão ameaçadas." 

Bernard Foccroulle, o director artístico do festival vizinho de Aix-en-Provence que também participou na reunião com a ministra Aurélie Filippetti em Paris, passou a manhã de sábado a distribuir panfletos nas ruas da sua cidade: a direcção do festival está solidária com o protesto dos intermitentes e pôs a circular uma petição em que exige a revogação do acordo alcançado a 22 de Junho. "O regime dos intermitentes do espectáculo responde às especificidades da nossa actividade, por natureza temporária e flutuante. Fragilizá-lo é pôr em causa toda a nossa profissão e toda a riqueza da nossa vida cultural, cujo estatuto de excepção é considerado exemplar no estrangeiro", lê-se no documento.

O espectro da crise dos intermitentes de 2003, que levou ao cancelamento do Festival de Avignon e de uma série de outros blockbusters do Verão cultural francês, paira sobre o Governo, que já nomeou um mediador, o deputado socialista Jean-Patrick Gille, para desbloquear o conflito. A Coordination National des Intermittents et Précaires desvalorizou a medida, que considera "areia para os olhos". E enquanto o tempo passa os festivais vão caindo um a um como as peças de um dominó: o próximo ponto de interrogação é o Montpellier Danse, que arranca já no dia 22. Tal como em Aix-en-Provence, a direcção está com os intermitentes e redigiu uma petição apelando à não-ratificação do acordo. A ministra Aurélie Filippetti não esconde a gravidade da situação e diz-se determinada a fazer tudo para "preservar a vida dos festivais, que é também a vida económica de muitas cidades francesas".

O secretário-geral da federação de sindicatos que marcou a concentração desta tarde em Paris, a CGT-Spectacle, diz que os intermitentes estão dispostos a recuar - desde que as suas reivindicações sejam atendidas. "O nosso objectivo não é bloquear os festivais, pelo contrário. Apresentámos um pré-aviso de greve que cobre o mês de Junho. Até ao momento, ainda não entregámos um pré-aviso de greve para Julho por uma razão simples: esperamos ser ouvidos", declarou Denis Gravouil, citado pelo Libération

A convenção aprovada pelas organizações patronais e por três sindicatos endurece as condições de acesso à protecção no desemprego para várias categoriais profissionais, incluindo os intermitentes do espectáculo, que eram mais de 250 mil em 2011. 

Sugerir correcção
Comentar