Flamenjazz revigorante

Por iniciativa do Festival de Flamenco de Lisboa, o trio de Jorge Pardo levou ao palco do São Luiz, na noite de 29 de Outubro, um espectáculo revigorante.

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Jorge Pardo DR

Não era tarefa fácil, sobretudo devido à concorrência directa (Wayne Shorter tocava, à mesma hora, no CCB), mas o trio de Jorge Pardo conseguiu atrair ao São Luiz um lote considerável de admiradores e curiosos e justificar, com brio, tal escolha. Rodado em numerosos espectáculos pela Europa, Índia e América Latina, o trio mostrou uma empatia e fluidez impressionantes, com Jorge Pardo (flauta e saxofone) a partilhar os holofotes, na improvisação e nos solos, com os igualmente exímios Josemi Carmona, na guitarra flamenca, e “Bandolero”, no cajón, bateria e demais percussões.

Surgindo primeiro em solo absoluto, mostrando o seu domínio sobre as subtilezas da flauta, e depois já em diálogo com “Bandolero” e Josemi, Jorge Prado abriu a noite com variações “flamenjazzísticas” em torno da Dança do Fogo de Manuel de Falla e do Bolero de Ravel. Depois, embalado a alegrías ou bulerías, o trio expôs sobretudo temas longos, cruzando as linguagens do flamenco e do jazz, por onde assomavam melodias de várias proveniências, desde o Summertime de Gershwin ao Caravan de Ellington ou, já no encore, à Michelle de Lennon e McCartney.

De surpresa, a noite contou ainda com a voz de Diego “El Gavi” (com “duende” quanto baste para aguentar os improvisados desafios de tão excelentes músicos) e o trompete de Ricardo Pinto, que para lá da sua rodagem em projectos jazzísticos, acompanha as actuações de Diego em Portugal e, no palco do São Luiz, mostrou poder estar à altura dos melhores.

Com este concerto, o Festival de Flamenco de Lisboa cravou mais uma boa medalha na nossa memória.

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