Berlusconi tenta comprar grupo editorial Rizzoli

Chancelas do grupo Rizzoli, a juntar às da Mondadori, dariam 40% do mercado do livro ao ex-chefe do governo italiano, que lançou também uma OPA sobre uma empresa pública do grupo RAI para expandir o seu controle sobre as torres de transmissão de sinais de televisão.

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O grupo editorial Mondadori, detido pela Fininvest de Silvio Berlusconi, está a tentar comprar o sector editorial do grupo Rizzoli-Corriere della Sera (RCS), a RCS Libri, o que daria ao ex-primeiro-ministro uma quota de mercado de cerca de 40% no mercado italiano do livro.

Após meses de rumores, a Mondadori fez uma oferta não vinculativa à RCS no dia 18 de Fevereiro, mas não chegou ainda nenhuma informação oficial à autoridade italiana da concorrência (Autorità Garante della Concorrenza e del Mercato, vulgo Antitrust), segundo afirmou esta quarta-feira o respectivo presidente, Giovanni Pitruzezella.

O valor da oferta inicial da Mondadori não é conhecido, mas a imprensa italiana estima que a operação possa situar-se entre os 120 e os 150 milhões de euros. Se se concretizar, o grupo Mondadori, que já detém nove chancelas, incluindo a prestigiada Einaudi, somará sensivelmente outras tantas, entre as quais se contam editoras tão importantes como a Bompiani, Fabbri ou a Adelphi.

Meia centena de autores da Bompiani já protestou publicamente contra este anunciado negócio, publicando uma carta aberta na imprensa, entre cujos signatários se contam vários escritores italianos, como Andrea de Carlo ou Susana Tamaro, mas também estrangeiros, de Tahar Ben Jelloun a Michael Cunningham.

Umberto Eco alertou que “um colosso desta dimensão assumiria um preocupante poder contratual sobre os autores”, “teria uma influência decisiva nas livrarias” e “implicaria uma ameaça à liberdade de expressão”. O próprio ministro da Cultura, Dario Franceschini, confessou a sua preocupação, dizendo ser “demasiado perigoso que uma empresa controle quase metade do mercado”.

A polémica surge ao mesmo tempo que a EI Towers, uma companhia controlada pela Mediasat de Berlusconi, lançou  uma OPA para conseguir 66% das acções da Rai Way, uma empresa do grupo RAI detida a 65% pelo Estado e que detém 2.300 torres de transmissão de sinais de televisão. O resultado pretendido é ilegal, já que a lei italiana obriga o Estado a deter pelo menos 51% das empresas públicas, mas se a Mediasat vier a conseguir controlar 49% das acções da Rai Way, a Mediasat, que já gere 3.200 torres através da EI Towers, passaria, na prática, a controlar todo o sistema de comunicação televisiva em itália.

Há quem veja na conjugação destas duas operações uma vingativa tentativa de desestabilizar o governo de Matteo Renzi, que fez recentemente a Berlusconi a desfeita de indicar o juiz siciliano Sergio Mattarella, um conhecido crítico do ex-primeiro-ministro, para presidente da República. O próprio Renzi já disse, no entanto, que se trata de “operações de mercado”, sem significado político, e limitou-se a garantir que o Governo não pretende alterar a lei que impõe um máximo de 49% de acções privadas em empresas públicas.  

Com 78 anos, Berlusconi cumpre actualmente pena – convertida em serviço público obrigatório dada a sua idade – por crime de fraude fiscal, e tem vários outros pocessos pendentes.

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