Regresso a Blair Witch, sim ou não? Nim

Uma sequela fora de tempo de um dos filmes seminais do cinema de terror recente: O Bosque de Blair Witch

Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

Em 1999, O Projecto Blair Witch relançava a ideia da found footage, ou filme montado a partir de imagens pré-existentes, como novo percurso para o cinema fantástico contemporâneo, ao mesmo tempo que voltava à ideia original da sugestão como chave do bom susto do cinema de terror. No filme de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, a “bruxa” do título nunca se via e era o simples facto de a história ser rodada com a nova tecnologia digital que permitia a ilusão do imediatismo, do fazer parte das coisas enquanto elas aconteciam.

Depois de uma sequela mal recebida mas não desinteressante (O Livro das Trevas, realizada, numa decisão muito meta-ficcional, pelo documentarista Joe Berlinger), a pergunta que este regresso aos bosques de Burkittsville, acompanhando o irmão de uma das vítimas originais e a sua amiga que o filma para um projecto universitário, é se ainda é possível voltar atrás e recuperar essa frescura do original, depois do formato ter sido reactivado e explorado por Actividade Paranormal e suas sequelas.

A resposta do realizador Adam Wingard e do argumentista Simon Barrett é um cabal “nim” — nem não nem sim, mas antes pelo contrário. “Não”, porque o dispositivo do falso documentário já está de tal modo normalizado que não há maneira de lhe dar a volta, mas também porque a dupla não esconde que não lhe quer escapar nem reinventá-lo. E “sim” porque essa opção é aqui aproveitada para forçar o espectador a um estado de desorientação e um ambiente de inquietação sobrenatural extraordinários, coisa que não é comum nos filmes de género.

Levando ao extremo a ideia do “cinema de atracções” em que o cinema fantástico é perito, Wingard atira-nos para um “comboio fantasma” que vai lentamente construindo ambiente e mal-estar antes da última meia-hora nos introduzir numa “casa assombrada” onde, mais uma vez, é a sugestão audiovisual que causa os sustos. Não é ideal que Wingard o faça dentro de um franchising que já está gasto, e O Bosque de Blair Witch acaba por se esgotar nessa lógica de “atracção de feira” que tem de responder a um caderno de encargos. Mas que, dentro dessas limitações, o realizador consiga criar e sustentar a tensão durante hora e meia para terminar numa explosão abstracta de estímulos sensoriais é de assinalar — e de recomendar.

Sugerir correcção
Comentar