A street art estreia-se no espaço com um... Space Invader

Obra do francês Invader vai ser colada na escotilha da Estação Espacial Internacional. É a primeira vez que uma obra de arte de rua chega ao espaço.

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Space2 junto à escotilha do Columbus na Estação Espacial Internacional Instagram EEI/DR
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Space2 em gravidade zero DR
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Na Bélgica, mais um Space Invader à espreita DR
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Em Colónia, uma fila de Space Invaders perto da estátua de Iuri Gagarin à entrada do Centro Europeu de Astronautas DR
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"Fallen Astronaut", a estatueta que se encontra na Lua DR

O francês Invader é o primeiro street artist a ter um trabalho na Estação Espacial Internacional (EEI). É provavelmente o street artist mais adequado para chegar ao espaço: nasceu em 1969, ano em que o homem foi pela primeira vez à Lua, e o seu nome de guerra e o seu trabalho são toda uma referência ao emblemático videojogo Space Invaders. Um desses pequenos alienígenas quadriculados vai ser colado no laboratório Columbus, a bordo da EEI, na quinta-feira.

Eles espreitam nas ruas de Paris – só na capital francesa são 1200 mosaicos coloridos em variações dos bonecos do jogo criado em 1978, formados por quadradinhos de cerâmica ou de vidro - mas também no Quénia, Menorca, Tóquio, Katmandu, Mombaça, Cancun, Nova Iorque, Melbourne e São Paulo. Invader escolheu-os como principais figuras do seu trabalho porque são “ícones perfeitos do nosso tempo, em que as tecnologias digitais são o batimento cardíaco do nosso mundo”, explica no seu site o artista, um francês cuja identidade permanece em segredo por trás de uma máscara.

Os planos de domínio mundial de Invader já cobrem uma parte considerável do planeta. Mas desde o Verão passado que um deles foi mais longe do que qualquer peça de street art tinha alguma vez ido: chegou ao espaço.

“É um sonho de criança que se realiza” para o artista, entrevistado pela agência de notícias AFP, e um projecto educativo da Agência Espacial Europeia (AEE) que visa despertar nos jovens as suas vocações científicas voltadas para a exploração espacial, como explicou à agência Jules Grandsier, responsável pela comunicação do Centro Europeu de Astronautas da AEE. “Esta colaboração com Invader evidencia as pontes que existem entre a arte e o espaço”, diz Grandsier. No dia 16, é lançado um concurso para os jovens europeus criarem o seu próprio mosaico, à imagem do método de trabalho de Invader, sob o tema “espaço” – os dez melhores serão premiados.

O mosaico que já anda em órbita é exactamente um pequeno Space Invader vermelho sobre fundo preto. A astronauta italiana Samantha Cristoforetti tem vindo a enviar ao artista francês imagens da sua obra, que baptizou de Space2. O pequeno azulejo pairando em gravidade zero, o alienígena quadriculado junto à escotilha do laboratório espacial Columbus com a Terra em fundo…
 

Space2 faz história

Space2 embarcou rumo ao espaço a 29 de Julho e chegou à estação espacial a 12 de Agosto. Viajou num saco, detalha Invader, e envolto numa folha plástica autocolante para evitar que se despedaçasse. Quinta-feira, a obra de 15 por 10 centímetros vai ser colada por Cristoforetti na escotilha do Columbus com ajuda de fita adesiva. Space2 faz história desde a sua chegada à EEI e agora fixa-se nela, e justamente na entrada do módulo, como disse Grandsire.

Há meses, quando o feito de Invader começou a ser comentado na Internet e na sua conta de Instagram, onde tem partilhado as aventuras de Space2, as reacções têm sido de gáudio. “A sério. É impossível suplantar isto”; “Literalmente um Space Invader!”; “Banksy, é a tua vez”, desafiam, referindo-se ao conhecido writer de graffiti.

A colaboração com a AEE não parou por aqui para Invader. Oito dos centros da agência espacial vão contar com obras do artista - na Bélgica, por exemplo, estão um grande astronauta quadriculado, mais um Space Invader e um foguetão em fase de ignição, em Colónia uma fila de Space Invaders que olha a estátua de Iuri Gagarin junto à entrada do Centro Europeu de Astronautas.

Arte para libertar

Desde 1998 que o francês estuda meticulosamente o local onde aplica os seus mosaicos neste seu grande projecto contínuo a que chama, claro, Space Invaders. Quer libertar a arte das suas restrições institucionais – ou dos seus “costumeiros alienadores” como diz no seu site – mas também quer libertar as figuras pixelizadas do ecrã dos videojogos. Tal como o seu correligionário Banksy, esconde a identidade mas já chegou ao circuito institucional da arte, expondo e vendendo o seu trabalho em galerias e museus.

A World Invasion da obra do artista, como ele próprio apelida este projecto contínuo que tende a focar-se em zonas densamente povoadas (à excepção da lua, claro), já conta com cerca de 3200 pontos de contacto entre os invasores alienígenas e as paredes e ruas de todo o mundo. Um deles foi já bastante longe: Space1 chegou à estratosfera num voo de algumas horas com a ajuda de um balão meteorológico em 2012.

Invader é o primeiro street artist a ter obra no espaço, mas outros artistas contemporâneos têm, nos últimos anos, ultrapassado os limites terrestres em programas similares ou ainda mais arrojados – há, por exemplo, uma pintura de Damien Hirst em Marte, e desde 1971 que a escultura Fallen Astronaut, de Paul van Hoeydonck, se encontra na Lua.

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