A oportunidade desperdiçada da super-mulher

Quando resulta, dá um Quinto Elemento, quando não resulta, dá Lucy

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No mesmo ano em que vemos Scarlett Johansson ser a alienígena predadora de Debaixo da Pele, temo-la também como Super-Mulher; ou antes, como party girl desmiolada em Taipei que um namorado a brincar aos gangsters atira para o caminho de uma nova droga sintética que “desbloqueia” o poder do seu cérebro até a tornar todo-poderosa.

É uma das melhores metáforas que vimos recentemente da ideia clássica da estrela de cinema como “deusa” que acede a patamares proibidos ao comum dos mortais, e só é pena que tenha saído da cabeça de Luc Besson, o cineasta francês que tem apostado ser possível fazer em França blockbusters à americana, quer como produtor quer como realizador.

E é pena porque Besson tem uma cabeça fervilhante de ideias e de visuais e um grande “calcanhar de Aquiles”, que é ter sérios problemas em articular essas ideias e esses visuais num filme que seja genuinamente consistente. Quando resulta, dá um Quinto Elemento, quando não resulta, dá Lucy: uma espécie de centrifugadora onde colidem pretensões filosóficas sobre o nosso lugar no universo e o poder da nossa mente, comic-book de super-heróis derivativo de cem outros filmes ou livros pré-existentes e um défice de atenção que garante que as ideias ficam todas “pela rama”, afogadas no estilo cansativamente hiper-cinético e pesadamente demonstrativo do cineasta (ao qual a partitura bombástica de Éric Serra não ajuda mesmo nada). Há dois ou três momentos em que se percebe o grande filme que podia aqui estar, e Scarlett Johansson é impecável (o filme parece ter sido feito à sua medida, quando na verdade a actriz enfiou os sapatos de Angelina Jolie, que desistiu na pré-produção), mas sai-se de Lucy com a ideia de uma oportunidade desperdiçada.

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