O movimento hippie explode no Victoria & Albert Museum

You Say You Want a Revolution percorre a contra-cultura nascida nos anos 1960 em São Francisco. A partir de 10 de Setembro.

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A ilustração da letra dos Beatles por Alan Aldrige, 1968. Victoria & Albert Museum, Londres
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The Souper Dress, da Campbell's Soup Company Kerry Taylor Auctions/DR
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O activista Stokely Carmichael (1941-1998). Bentley Archive/Popperfoto/Getty Images
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Os posters The Acid Test de Wes Wilson, e War Is Not Healthy de Lorraine Schneider, 1966. Victoria and Albert Museum, Londres - cortesia de Steward Brand/Another Mother for Peace
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O poster dos The Grateful Dead, desenhado por Stanley Miller e Alton Kelly Alton Kelly; Stanley Mouse/Victoria and Albert Museum, Londres

A década de 1960 foi uma época de transformações em todo o mundo. Desde o despudor que assolou Londres, passando pelos protestos estudantis em Paris, à chegada do Homem à lua em 1969, foram anos em que se deram “os mais ousados gestos da humanidade”. Quem o diz ao jornal britânico The Guardian é Geoffrey Marsh, co-curador da exposição You Say You Want a Revolution? Records and Rebels 1966-1970, que inaugurará a 10 de Setembro no Victoria & Albert Museum, em Londres.

A mostra vai percorrer a história do período tumultuoso do fim dos anos 1960 que começou com uma forte explosão do movimento hippie em São Francisco, nos Estados Unidos. Através da música, de imagens e de outros objectos, Geoffrey Marsh e Victoria Broackes vão proporcionar uma viagem pelos ideais de paz, amor e tolerância que imperavam nessa altura. Os visitantes poderão ficar conhecer as melhores canções e actuações do século XX e o que se fazia também na moda, no cinema, no design e no activismo político.

Para criar a exposição, o Victoria & Albert reuniu peças que vão desde a cafetã da cantora Grace Slick, dos Jefferson Airplane ao primeiro rato de computador. Há também a fotografia do concerto de John Sebastian no festival de Woodstock, o vestido The Souper Dress, desenhado em 1966 com o padrão das Campbell Soup Cans, de Andy Warhol e o poster The Acid Test, um trabalho de Wes Wilson em 1966. Os visitantes poderão também assistir à conversa Curator Talk: You Say You Want A Revolution? no dia 9 de Setembro, em que os curadores irão discutir a exposição e falar sobre a forma como as “revoluções acabadas e inacabadas da altura mudaram o modo como vivemos hoje e como encaramos o futuro”.

Cerca de duas mil pessoas se deslocaram a São Francisco no Verão de 1967. Tudo estava a acontecer ao mesmo tempo naquela cidade norte-americana: os protestos contra a Guerra do Vietname no campus da Universidade de Berkeley, o movimento africano-americano em Oakland e a marcha armada do partido da comunidade negra Black Panthers. “Foi muito poderoso porque em nenhuma fase da nossa educação nos davam exemplos onde os negros defendiam aquilo em que acreditavam”, diz Rick Moss, curador do African American Museum em Oakland, que tinha 12 anos na época.

Paralelamente, surgiam bandas como The Grateful Dead, Jefferson Airplane e Big Brother and the Holding Company, que tinha como vocalista Janis Joplin, que actuavam no psicadelismo alucinogéno de auditórios como Avalon and the Filmore, em que as preocupações da contracultura eram discutidas do surrealismo ao sexo.

 Stanley Miller, conhecido como Mouse, desenhou a icónica imagem com uma caveira e rosas para os The Grateful Dead, apesar de preferir a companhia de Janis Joplin. “Ela era selvagem”, recorda ao The Guardian com um brilhozinho nos olhos. “A primeira vez que veio ao meu estúdio, andou a correr atrás de mim – fiquei um bocado assustado”. Miller mudou-se para Londres e assistiu ao último concerto dos Beatles sem se aperceber de que estava a testemunhar um acontecimento histórico.

Surgiam performers e activistas comunitários como os Diggers, que anunciaram a morte do movimento de hippie de Haight Ashbury em Outubro de 1967 através da encenação de um funeral. A estética das capas dos vinis, dos cartazes nos concertos e da moda tinha cores e padrões de queimar a retina. Nesta sociedade, o racismo, o conflito e a repressão eram rejeitados e apelava-se à construção de realidades alternativas, enquanto discos como Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, chamava gente dos dois lados do Atlântico para a contra-cultura.

Por outro lado, existiam os hippies que se retiravam para o campo para viver em comunidade com uma cópia do Wholly Earth Catalog, uma publicação bianual criada por Stewart Brand e impressa entre 1968 e 1972, que continha uma riqueza de informação, ideias e ferramentas que abrangia desde os melhores candeeiros de querosene até a dicas para a criação de ovelhas. Na Universidade de Stanford, cientistas estabeleciam as bases para a computação pessoal em Silicon Valley.

Stewart Brand andou entre a comunidade hippie e o mundo dos computadores, área que despertou o seu interesse depois de estudar em Stanford. Em 1968, filmou a primeira demonstração pública de um rato de computador. O seu catálogo tornou-se extremamente popular pela forma como tornou o mundo numa rede de informação.

Já se passaram cerca de cinco décadas desde a loucura de São Francisco que se alastrou ao mundo. Hoje em dia, esta é uma das cidades mais caras do mundo, mas além de ser a casa de Silicon Valley, continua a albergar o desejo de resgatar os ideais de partilha e espírito livre que se enraizaram ali.

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