Director do Bolshoi sabe quem o atacou

Vítima de um ataque com ácido sulfúrico a 17 de Janeiro, Sergei Fillin encontra-se internado num hospital em Moscovo. Numa entrevista à BBC, emitida este fim-de-semana, o director do Ballet Bolshoi disse saber quais os motivos e os autores do crime.

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Sergei Fillin, ao centro, ficou gravemente ferido no ataque AFP

Sergei Filin, o director do Ballet Bolshoi que foi vítima de um acidente com ácido a 17 de Janeiro, disse numa entrevista à BBC emitida ontem, não ter dúvidas sobre quem foi a figura de capuz que o atacou mas escusou-se a revelar nomes até que termine a investigação. A família do ex-bailarino foi, entretanto, sujeita a protecção policial.

“O que fica claro é a psicose de uma ou mais pessoas em me causarem sofrimento para atingirem as suas ambições pessoais”, disse Filin, que se tem sujeitado a tratamentos diários de regeneração da pele e recuperação dos olhos, a zona mais sensível que ficou marcada pelo ataque. Sergei Filin disse ainda que se a recuperação for bem sucedida viajará no início da semana para a Alemanha onde continuará os tratamentos.

O director artístico da companhia, que se encontra a recuperar num hospital em Moscovo, defendeu que o ataque tinha dois objectivos: “afastar por um longo período o director do Bolshoi e manchar a reputação do Ballet”. “Estamos a caminhar na direcção certa e há quem não goste do que fiz, e talvez não gostem do facto de ter sido bem-sucedido”.

O ataque a que foi sujeito surgiu na sequência de outras ameaças que Sergei Filin reconhece agora não ter prestado atenção. “Ignorei os avisos dos meus amigos para contratar um motorista e um guarda-costas. Percebo agora que a intimidação a que estava a ser sujeito – os constantes ataques aos meus telemóveis, que estavam sempre a tocar, os ataques às contas de email, com as minhas mensagens a serem reescritas de forma negativa e publicadas no Facebook    – se dirigia a esta tragédia. Se as tivesse levado mais a sério e contratado, pelo menos, um motorista, então isto não me teria acontecido”.

Sergei Fillin foi atacado quando regressava a casa. “Vi alguém com um capuz. Vi a sua mão e assustei-me. Pensei que iria disparar sobre mim”, contou à Ren TV, citado pelo jornal britânico The Guardian, a 18 de Janeiro, um dia depois do acidente.

Fillin havia sido nomeado em 2011 director do Bolshoi, depois de vários anos como bailarino. O seu percurso não era particularmente contestado mas sim a atribuição do lugar de director da companhia, uma das mais relevantes do mundo e um dos lugares de maior influência na Rússia.

Antigo director também denuncia pressões

Após o ataque, Alexey Ratmansky o ex-director do Bolshoi, a quem Fillin sucedeu, escrevia no Facebook que o ataque "não foi uma coincidência". Ratmansky chama-lhe uma bola de neve, que já havia conseguido fazer com que fosse afastado da direcção, depois de um rival ao lugar ter publicado online fotografias íntimas de Ratmansky. O ex-director escreveu: “Um conjunto repugnante de bajuladores amigos de artistas e intriguistas, fãs algo lunáticos preparados para cortar a garganta dos rivais dos seus ídolos, mentiras na imprensa e entrevistas escandalosas de funcionários”. A mãe de Filin disse à imprensa russa saber a identidade do atacante: “Sei quem é esta pessoa e irei decididamente dizê-lo às autoridades”.

No fim da semana o jornal australiano The Age avançava que vários membros do teatro e da família de Fillin haviam sido interrogados. Entre eles o principal bailarino da companhia Nikolai Tsiskaridze. Aos 39 anos, Tsiskaridze era visto como um dos concorrentes à direcção do Bolshoi mas perdeu-a para Fillin. Reconhecendo que tinham diferenças artísticas, o bailarino condenou o ataque afirmando tratar-se de “um crime terrível que deve ser violentamente condenado”.

A direcção do ballet, representada pelo director-geral Anatoly Iksanov recusou que tivesse sugerido que Tsiskaridze fosse suspeito do ataque mas, continua o jornal australiano, apontava o bailarino como fonte de tensão no teatro. Na altura da reabertura do teatro, em Outubro 2011, Tsiskaridze, que para além da fama como bailarino da companhia era também presença frequente como júri em reality shows havia sido uma voz crítica dos atrasos na reconstrução do teatro, bem como do aumento do orçamento, considerando que haviam transformado o Bolshoi num “hotel turco”.

Anatoly Iksanov, o director-geral do teatro, anunciou a 22 de Janeiro que a antiga bailarina Galina Stepanenko, de 46 anos, assumirá a direcção artística da companhia de bailado até ao regresso de Filin, cuja recuperação poderá demorar seis meses. À BBC Fillin disse que “os médicos estão satisfeitos” com a recuperação mas que todas as atenções se concentram nos olhos. O olho esquerdo foi o mais afectado.

Entretanto, a estreia de uma versão de Sagração da Primavera, assinada pelo inglês Wayne McGregor, foi adiada para o fim de Março, aguardando notícias sobre a recuperação de Fillin.
 
 

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