A cineasta que quis voar mais alto

Claudia Llosa ganhou Berlim há cinco anos, mas o seu novo filme, Aloft, esteve longe de convencer o festival.

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A realizadora Claudia Llosa

Ganhar o prémio máximo de um festival de cinema implica, para o seu realizador, uma expectativa acrescida para o filme que se segue. Sobretudo quando estamos a falar de um dos "três grandes", como Cannes, Veneza ou Berlim, ou quando o filme tem a felicidade de "cair no goto".

Por cada cineasta que usa o seu Leão, o seu Urso ou a sua Palma como ponto de partida para "descolar" para voos mais altos, outros há que se despenham sem apelo nem agravo na tentativa de subir de patamar.

Este ano, a questão levanta-se com a cineasta peruana Claudia Llosa. Em 2009, Llosa venceu o Urso de Ouro em Berlim com a segunda longa-metragem, A Teta Assustada, uma história sensível de realismo mágico que conquistou a crítica internacional e chegou a ser nomeada para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Cinco anos depois, regressa ao concurso da Berlinale com Aloft, filme que dá um "salto de gigante" em termos de produção e visibilidade: falado em inglês e com um elenco internacional (Jennifer Connelly, Mélanie Laurent e Cillian Murphy), em co-produção entre o Canadá, a Espanha e a França.

Aloft não foi bem recebido pela imprensa presente. Chamaram-lhe passo em falso, ambições maiores que o talento, misticismo New Age de pacotilha... Houve até quem comparasse o filme a Paulo Coelho, pelo meio de outras críticas que apontavam o evidente crescimento formal da cineasta pelo meio de uma narrativa demasiado onírica e opaca.

Não é evidente passar-se de uma miniatura como A Teta Assustada para um filme mais expansivo e paisagista como Aloft, mas reconhecem-se aqui as mesmas temáticas que já borbulhavam na obra anterior de Llosa – a crença na tradição ou na natureza, a busca de uma conexão espiritual com o mundo que nos rodeia, o papel formativo da família. Nesse aspecto, Aloft é coerente com Madeinusa e A Teta Assustada, os dois filmes anteriores.

Aloft é um filme mais "descentrado", que evoca ao mesmo tempo um melodrama seco e uma história retrofuturista, onde a medicina tradicional e a superstição de curandeiros coabitam. Fala de uma mãe (Jennifer Connelly) que luta com a injustiça da doença do filho mais novo, pelo qual os médicos dizem nada poder fazer, e um filho (Cillian Murphy) que cortou relações com a mãe e carrega consigo a culpa e o fardo; as duas histórias passam-se com 25 anos de diferença e espelham-se elegantemente.

Mas nada disso invalida que Aloft resulte num empate técnico quanto à questão central: é Claudia Llosa capaz de construir uma obra sólida, ou A Teta Assustada ficou como fogacho irrepetível? Sente-se aqui uma cineasta ao comando do que quer dizer e do modo como o quer dizer, que soube aproveitar em seu favor as condições de trabalho a que a aclamação do seu Urso de Ouro lhe permitiu aceder.

Mas, ao mesmo tempo, essas condições podem ter feito de Aloft um filme sobredimensionado em relação à intimidade da história de pais e filhos que se quer contar, demasiado esforçado na maneira como procura ampliar para uma tela maior uma história demasiado banal. Como se o realismo mágico que Llosa aqui procura se desse mal com a língua inglesa ou com um modo narrativo mais tradicional.

Não podemos culpar Claudia Llosa por ter querido dar um passo em frente, nem censurá-la por ter escorregado (muitas vezes perdoa-se aos consagrados aquilo que não se desculpa a um "novato"). Aloft limita-se a adiar a resposta para o próximo filme. Até lá, vai planando ao sabor do vento. 

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