Ripley está de volta, mas não o vejam como vilão

A personagem criada por Patricia Highsmith em 1955 está de volta aos ecrãs, agora protagonizada por Andrew Scott. “Ripley não é um vilão. Antes um anti-herói.” Ripley estreia-se hoje na Netflix

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Andrew Scott é Ripley, nova série da Netflix netflix
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Ripley, a nova série da Netflix que hoje se estreia, re-imagina o misterioso personagem criado pela escritora norte-americana Patricia Highsmith num cenário "noir" da Itália dos anos 50, com o protagonista Andrew Scott a recusar considerá-lo um vilão. "Não me parece que Tom [Ripley] seja um assassino nato", afirmou o actor numa conferência de lançamento da série na qual a Lusa participou, em Los Angeles. "Não o vejo como vilão. Ele é tão complexo que é demasiado simplista chamar-lhe vilão. Um anti-herói, certamente."

Andrew Scott, o actor irlandês que em 2023 foi aclamado pela crítica pelo papel no filme All of Us Strangers, de Andrew Haigh (Desconhecidos, no título em português), considera que o grande sucesso da história e deste argumento é levar a audiência a torcer por alguém que não deveria apoiar. "Queremos basicamente que ele se safe", disse o actor, de 48 anos. "A razão pela qual este personagem é tão duradouro e icónico é termos tantas perguntas sobre ele."

"Consideramo-lo fascinante, assustador, aterrorizador ou desconfortável porque não temos muita informação sobre Ripley", continuou. "É como segurar em água, temos de ter uma noção sem diagnosticar a sua nacionalidade, idade ou sexualidade, é algo que não conseguimos bem apanhar", rematou.

O actor – o Moriarty de Sherlock e o padre da série Fleabag ​– descreve um vigarista que é ignorado pela sociedade sendo incrivelmente dotado. "É um artista que tem de sobreviver de forma fraudulenta e sem qualquer acesso a nenhuma das coisas bonitas de que outros personagens na história podem usufruir, como música e beleza", opinou. "Há uma mensagem dentro da história de que toda a gente merece beleza e arte."

O anti-herói amoral criado pela escritora norte-americana em 1955, que foi depois protagonista de uma série de romances que consolidaram a sua carreira, é figura recorrente nos ecrãs: O Talentoso Sr. Ripley, filme de 1999 de Anthony Minghella, protagonizado por Matt Damon, viria a receber cinco nomeações para os Óscares; em 1960, foi Alain Delon a estrear a adaptação de Tom Ripley para cinema com À Luz do Sol, de René Clément; em 1997, foi Dennis Hopper a encarnar o personagem em O Amigo Americano, de Wim Wenders; e no mais recente O Jogo de Mr. Ripley (2002), de Liliana Cavani, o papel coube a John Malkovich.

"É um filme que as pessoas adoram e era uma preocupação: será que vai ser um remake?", apontou Andrew Scott, reconhecendo o peso do legado, sobretudo o filme de Minghella. "Percebi desde o início que a intenção de Steven Zaillian, o nosso argumentista e realizador, era a oposta." Zaillian, co-argumentista de The Irishman, de Martin Scorsese, confirmou essa ideia ao explicar que era fã do livro de Highsmith, considerando que a história precisava de mais tempo para ser contada –​ Ripley tem oito episódios.

"O livro foi escrito em 1955. É a versão narrativa de um filme noir, e isso justificava filmar em preto e branco", considerou ainda Zaillian. Ripley foi filmada em Itália, no Inverno.

No restante elenco contam-se ainda Dakota Fanning (I Am Sam, de Jessie Nelson, por exemplo), Maurizio Lombardi e Johnny Flynn.

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