Fosun acelera investimentos no sector financeiro e seguros

Seguros valem quase metade dos activos do conglomerado chinês que negocia a compra do Novo Banco. Assembleia-geral da Fidelidade, controlada pela Fosun, reúne-se nesta quinta-feira para votar aumento de capital.

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Guo Guangchang, presidente da Fosun (ao centro) Daniel Rocha
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Os investimentos do grupo Fosun avançam, dentro e fora da China, à velocidade de cruzeiro. Os anúncios de projectos, compra de empresas e parcerias estratégicas sucedem-se a um ritmo particularmente intenso e isso tem sido visível ao longo deste ano, quando a empresa já estava lançada na corrida à compra do Novo Banco.

O conglomerado chinês, dono da Fidelidade em Portugal, foi um dos três finalistas que chegaram à fase final do processo de venda do banco. Agora, depois de fracassadas as discussões com a Anbang (outro grupo chinês), a Fosun foi chamada à mesa das negociações com o Banco de Portugal (BdP).

O interesse do grupo liderado por Guo Guangchang no sector financeiro e segurador está a ganhar expressão. Só na Europa, dois avanços recentes representam um investimento de cerca de 710 milhões de euros. Em Julho, os chineses anunciaram a compra de 100% do banco alemão Hauck & Aufhäuser (H&A), vocacionado para o chamado segmento alto de clientes. Os activos do banco rondam os 3000 milhões de euros (e os activos geridos pela instituição ascendem a 43 mil milhões de euros). O negócio vale 210 milhões de euros.

A este montante soma-se uma proposta no valor de 500 milhões para garantir o controlo de mais um grupo financeiro. No mesmo mês em que avançava para a compra da H&A, a Fosun lançou uma oferta para ficar com o controlo do BHF Kleinwort Bensonb Group, sedeado em Bruxelas. Esta é a empresa-mãe de um grupo financeiro alemão centrado na gestão de património, activos e serviços bancários que rondam os 54,2 mil milhões de euros.

Foi também a Fosun este ano que recebeu luz verde dos reguladores do sector bancário chinês para avançar com a criação de um banco online, o Zhejiang Internet Commerce Banking. Na nova empresa, é a segunda accionista, com uma posição de 25%, sendo a Alibaba o principal aliado do negócio, com uma fatia de 30%.

Ainda em Junho fechou um acordo para comprar 52,31% da principal seguradora de Israel, a Phoenix. A empresa israelita, fundada em 1949, actua nos seguros e nos serviços financeiros. Para isso, os chineses vão desembolsar 462 milhões de dólares (410 milhões de euros), um valor que a Fosun diz ser “um dos maiores investimentos realizados no sector segurador israelita até ao momento”. O negócio deverá estar fechado em Outubro.

A Fosun vai ainda tomar o controlo de todo o capital de uma outra empresa de seguros, a norte-americana Ironshore. Primeiro, em 2014, comprou 20%, estando prevista a aquisição dos restantes 80%.

A agência de rating Moody’s estima que, quando consolidar a compra da Phoenix com outras empresas do mesmo ramo de actividade nos Estados Unidos, o sector dos seguros vai representar quase metade (49%) de todos os seus activos.

Os resultados do grupo mostram o peso desta área de negócio. Os activos líquidos da Fosun ascendem a 52,36 mil milhões de dólares (cerca de 46,5 mil milhões de euros). Nos primeiros seis meses do ano, a empresa apresentou um lucro de cerca de 505,7 milhões de euros. Quase metade do resultado veio dos investimentos na área dos seguros, onde os lucros chegaram até Junho aos 250 milhões de euros.

Perante os sinais de abrandamento da economia chinesa, mas antes da forte turbulência nas bolsas no último mês, a Moody’s alertava que “as aquisições agressivas irão aumentar a pressão de financiamento sobre a Fosun”. Mas para o conglomerado chinês o entendimento é que a aposta no sector dos seguros, que lhe está a garantir uma diversificação geográfica do portefólio de investimentos, lhe permite financiamento a custos mais baixos e no longo prazo, sublinhou a Moody’s numa análise publicada no final de Junho.

A agência de informação oficial Xinhua noticiou recentemente uma ligação de uma empresa do ramo imobiliário da Fosun e de Guo Guangchang a Wang Zongnan, ex-líder da empresa pública Bright Food Group, visado num caso de corrupção e condenado a 18 anos de prisão.

Mais capital na Fidelidade
Em Portugal, a Fosun detém 85% do capital da Fidelidade, seguradora até Maio do ano passado controlada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD). O avanço no mercado português continuou. Na Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada sobre a Espírito Santo Saúde já depois do colapso do GES/BES, a Fosun levou a melhor na corrida, ficando com o controlo do grupo, hoje chamado Luz Saúde. E é ainda accionista da REN através da Fidelidade, com uma participação de 5,3%.

Agora, a participação na Fidelidade deverá ser reforçada depois do aumento de capital na seguradora, a aprovar nesta quinta-feira em assembleia-geral, enquanto a posição da Caixa Geral de Depósitos deverá reduzir-se.

O aumento de capital, no montante total de 607 milhões de euros, será realizado por entrada de 500 milhões de euros em capital e o restante em espécie. Esta parte será feita por incorporação das sociedades Cares e Multicare, onde a CGD detém 20% do capital, participando, assim, nesta parte da operação. Mas na componente capital, segundo apurou o PÚBLICO, o banco público não deverá participar, reduzindo assim a sua participação na seguradora de 15% para 12%.

A Fosun está presente no sector financeiro e nos seguros, na gestão de investimentos e activos, mas os seus interesses estendem-se à indústria de produtos farmacêuticos, à siderurgia, às minas e ao entretenimento (a Fosun é, por exemplo, accionista do Cirque du Soleil).

Também a KTG Agrar, uma empresa agrícola alemã, ganhou recentemente os chineses como accionistas. Através da Fidelidade e de uma subsidiária da Fosun, os chineses chegaram a acordo em Junho para ficar com 9,03% do capital.

“Com o continuado aumento da procura pelo consumo no mercado chinês”, a Fosun quer “dar especial atenção aos investimentos nas indústrias relacionadas com a moda e lifestyle”, sublinhava a empresa chinesa no primeiro trimestre. Este ano, foram dados vários avanços. Com o grupo de viagens Thomas Cook, os chineses anunciaram no início de Março uma parceria estratégica. Os chineses entraram no capital da empresa britânica, pagando 91,8 milhões de libras (124,5 milhões de euros) para ficarem com uma participação de 5%. A entrada no capital foi concretizada através de uma subsidiária britânica da Fidelidade.

Antes, garantiu o controlo do grupo hoteleiro francês Club Med através de uma OPA muito disputada. Foi uma longa luta até os chineses (associados à gestora de fundos de capital Ardian) conseguirem o controlo accionista da empresa francesa, dona de resorts e investimentos de hotelaria em mais de 40 países, e onde já detinha uma fatia de 18,25%. A guerra pela aquisição do Club Med – um investimento de 970 milhões de euros – começou em Maio de 2013 e só terminou em Janeiro deste ano quando o concorrente da Fosun, o empresário italiano Andrea Bonomi, desistiu da oferta. Com Rosa Soares

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