Aquela querida aldeia da Uz

Um documentário em modo “cinema do real”, mas que nunca consegue transcender a mera observação distante

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Volta à Terra

 é um dos fenómenos mais curiosos do cinema português recente: vencedor do concurso nacional do Doclisboa 2014, apresentado no Porto/Post/Doc, tem criado à sua volta uma pequena “vaga de fundo” internacional culminando na sua aclamação em Cannes 2015 onde foi exibido numa das secções paralelas. Há alguma razão para isso: o filme inscreve-se na tendência dos “cinemas do real” que neste momento está no centro dos debates sobre o documentário, no modo como faz um retrato directo, imersivo, sem adornos, da comunidade agrícola da aldeia da Uz. Mas esse olhar intensamente curioso, grandemente centrado na personagem de Daniel, um jovem pastor de uma pureza quase inacreditável, tem algo de distanciamento alienígena, entomológico, de 

outsider

 urbano que observa uma realidade alheia. 

Volta à Terra

 recorda muito 

Aquele Querido Mês de Agosto

 de Miguel Gomes, mas sem a mesma afeição e a mesma ternura, substituídos pela sofreguidão de registar aquela realidade sem verdadeiramente a resgatar do estatuto de mera curiosidade. 

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