Dois mundos

O segundo filme de Inês Oliveira nunca consegue muito bem explicar ao que vem.

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Quem vier a Bobô à espera de um filme sobre o tópico da mutilação genital feminina corre o risco de sair francamente decepcionado, porque a segunda longa-metragem de Inês Oliveira depois do desastroso Cinerama (2009) faz apenas uma tangente a esse tema sem verdadeiramente o aprofundar.

Aliás, Bobô, que chega às salas num lançamento quase “contratual” dois anos depois de ter estreado no IndieLisboa, é um filme que dá a impressão de se procurar sem nunca verdadeiramente se encontrar, um pouco à imagem das suas personagens: uma arquitecta lisboeta que se encerrou num casulo depressivo à conta de uma tragédia familiar, e a empregada guineense que a mãe contratou à sua revelia. É Bobô, a filha desta última, que funciona como traço de aproximação destas duas mulheres, e possível porta de entrada para a questão escaldante, mas a verdade é que Inês Oliveira está muito mais interessada na relação entre Sofia e Mariama como metáfora possível do encontro entre dois mundos diferentes, num filme que passa a sua curta duração a lançar pistas que nunca explora a fundo e chega ao fim sem verdadeiramente explicar ao que vem. Há ideias visuais e solidez de interpretação, não há é uma estrutura (para já não falar de uma narrativa) que dê coesão ao filme — ficamos a pensar no que Lucrecia Martel teria feito com uma história destas.

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