Novo Banco: Conclusão da venda sujeita a um "elemento de dúvida"

Quem o diz é Sérgio Monteiro, ex-governante e coordenador do processo de venda do Novo Banco, referindo-se a operação voluntária de troca de títulos de dívida.

Foto
Sérgio Monteiro, coordenador do processo de venda do Novo Banco Daniel Rocha

O coordenador do processo de venda do Novo Banco, Sérgio Monteiro, revelou hoje no Parlamento que a proposta do China Minsheng Bank era a mais elevada, mas que o grupo asiático falhou na prestação das garantias pedidas pelo vendedor.

"A proposta do China Minsheng Bank, sendo melhor a nível de valor, nunca chegou a ser transaccionável porque no momento em que foi necessária a apresentação de elementos que confirmassem a capacidade, tal não aconteceu", afirmou o responsável durante a sua audição na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA).

Segundo Sérgio Monteiro, a determinada altura, foi pedido ao grupo chinês que provasse a "existência de fundos para injectar o capital que se propunha injectar". Mas tal não aconteceu, "nem dentro do prazo inicial, nem dentro do prazo estendido, nem dentro do prazo final", vincou.

A proposta do China Minsheng Bank era a única que pendia para uma "venda em mercado", conforme salientou Sérgio Monteiro, enquanto as outras quatro propostas que surgiram em 2016 implicavam uma "venda estratégica".

Do lado do vendedor, Sérgio Monteiro reconheceu que era importante "manter a tensão competitiva" entre os concorrentes, mas, dada a falta de prestação de garantias por parte do grupo chinês, foi necessário "avançar só pela venda fora de mercado".

Elemento de dúvida

Sérgio Monteiro disse ainda que confia no sucesso da operação voluntária de troca de títulos de dívida que vai ser proposta aos obrigacionistas do banco, sem entrar em detalhes. "Acreditamos que a proposta que será feita aos obrigacionistas actuais será aceite. A nossa profunda convicção é que a transação se realizará", afirmou hoje Sérgio Monteiro, durante a sua audição na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA).

Reconhecendo que esta operação, pelo seu carácter voluntário, introduz um "elemento de dúvida" sobre a conclusão da venda do Novo Banco à Lone Star, Sérgio Monteiro reforçou que "os termos que serão apresentados aos obrigacionistas vão permitir que a transação se conclua".

A concretização do negócio de venda do Novo Banco ao fundo norte-americano está ainda sujeita a três condições, desde logo as autorizações da Direcção-Geral da Concorrência (DG Comp) da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE), mas também a troca de obrigações seniores do Novo Banco.

"Das condições que faltam, a menos ortodoxa é a troca de obrigações, porque as autorizações dos supervisores são normais neste processo", sublinhou o responsável. O objectivo desta troca de dívida é que o banco poupe 500 milhões de euros, pelo que deverá implicar penalizações para os detentores dos cerca de 3.000 milhões de euros destes títulos 'vivos' no balanço do Novo Banco. "É uma condição procedente. Se não se concretizar, o mais provável é que a transação não se conclua", admitiu Sérgio Monteiro perante as questões dos deputados.

E reconheceu que, para atingir o valor dos 500 milhões de euros que é pretendido com esta operação, vai ter que haver uma redução dos juros, ou extensão da maturidade, ou desvalorização nominal, e que "qualquer uma delas" tem que permitir alcançar a meta definida.

Questionado sobre a existência de um 'plano b' que possa ser acionado caso esta operação não tenha o sucesso esperado, Sérgio Monteiro jogou à defesa: "Manda a prudência que os planos B existam, mas que não se devem revelar. Peço compreensão, mas a prudência recomenda que eu tenha esta atitude". E insistiu: "Os investidores perceberão que [a operação] preserva o valor que têm neste momento e retira a indefinição em torno do processo de venda".

De resto, Sérgio Monteiro afastou a possibilidade de vir a ser contratado pela Lone Star, entidade que chegou a acordo com as autoridades portuguesas para comprar o Novo Banco. "Não estou legalmente proibido, mas eticamente sim, pelo que garanto que não vou trabalhar para o comprador do Novo Banco", garantiu.