“Draghi conhece bem Portugal, mas os portugueses também o conhecem bem”

O Bloco de Esquerda promove uma "recepção alternativa" ao presidente do Banco Central Europeu. Uma acção simbólica que vai decorrer bem longe do Palácio de Belém, onde se realiza a reunião do Conselho de Estado em que Mario Draghi participa como convidado.

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O cartaz da iniciativa do Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda chama-lhe “recepção alternativa” a Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu que participa esta quinta-feira, como convidado, no primeiro Conselho de Estado da era Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência. Mas o “meeting” decorre no Largo de S. Domingos, na Baixa, bem longe do Palácio de Belém, onde às 15 horas começa a reunião do órgão político de aconselhamento do Presidente da República. E só acontece às 19h, hora de ponta, ideal para ir ao encontro dos transeuntes que este partido que apoia o Governo no Parlamento quer sensibilizar sobre os efeitos da acção do BCE na vida das pessoas.

“Mario Draghi conhece bem Portugal, mas os portugueses também conhecem bem o presidente do Banco Central Europeu”, diz ao PÚBLICO Jorge Costa, deputado e dirigente do BE, lembrando o papel do BCE como “um dos principais protagonistas das políticas de austeridade aplicadas nos últimos anos em Portugal”.

Intitulada “Xô Draghi! Not wellcome”, esta acção simbólica do BE pretende sensibilizar as pessoas para o facto de Mario Draghi ser “um rosto da austeridade, da crise europeia e da perda de soberania democrática dos países do sul da Europa. Não é bem-vindo a Portugal e terá uma recepção digna do triste papel que tem na política europeia”, como se lê na convocatória divulgada na rede social Facebook. “Vamos juntar todas as vozes no Largo de S. Domingos, às 19h, para dizer que a austeridade tem de acabar e as imposições das instituições europeias não se sobrepõe à soberania democrática dos povos”, acrescenta-se.

Jorge Costa especifica: “O BCE é cúmplice da grande finança privada europeia, como se viu na entrega do Banif ao Santander, que não passou de uma forma de capitalização deste banco espanhol determinada pela política de União Bancária levada a cabo pelo BCE”. Uma política que, afirma, apenas privilegia a banca privada e “não se repercute em investimento produtivo” para os Estados-membros. 

Por outro lado, acrescenta Jorge Costa, Draghi “não foi eleito, não representa a vontade soberana de nenhum povo europeu: é um exemplo acabado da falta de legitimidade democrática das grandes instituições europeias”. Apesar disso, “continua a usar o BCE como uma arma de arremesso político, como o fez na Grécia, contribuindo para arrasar a economia e pressionar o governo, e como fez em Portugal, contribuindo para a pressão contra algumas medidas de devolução de rendimentos previstas no Orçamento de Estado”.

Questionado sobre se esta acção pode ensombrar as relações com o Governo, Jorge Costa recusa e afirma: "O BE vai continuar a dizer o que pensa dentro de uma União Europeia que é cada vez mais uma instituição de atraso para a maioria do povo europeu. Nestes temas o Bloco não vai nunca silenciar-se”.

O Bloco não vai, aliás, estar sozinho nesta “recepção alternativa”. Também o movimento Rendimento Básico Incondicional (RBI) Portugal vai juntar-se ao meeting, depois de fazer a sua própria acção junto ao Palácio de Belém à hora de início da reunião do Conselho de Estado.

António Fernandes, dinamizador do movimento RBI Portugal, explica ao PÚBLICO que o objectivo desta iniciativa é exigir que o BCE crie um “Quantitative Easing” para as pessoas: “Draghi é responsável pela aplicação do Quantitative Easing, [programa] que desde de Fevereiro de 2015 tem injectado no sistema financeiro 60 mil milhões de euros por mês, tendo aumentado para 80 mil milhões de euros por mês este ano. Se esse dinheiro fosse dado directamente aos cidadãos europeus, daria mais de 2000 euros por ano para cada pessoa, o que seria um bom princípio para o Rendimento Incondicional que defendemos para todos”, afirma.

Longe dos olhares dos activistas e em lugar não revelado, Mario Draghi almoça com o Presidente da República, o primeiro-ministro e o governador do Banco de Portugal com a banca na ementa. A seguir, os quatro sentam-se à mesa do Conselho de Estado, o primeiro marcado por Marcelo Rebelo de Sousa e que tem como tema principal o Programa Nacional de Reformas e o Programa de Estabilidade – documentos que o Governo terá de apresentar às instâncias europeias até ao final do mês. Imediatamente antes da reunião, tomam posse os cinco conselheiros indicados pelo novo chefe de Estado: António Guterres, Eduardo Lourenço, Leonor Beleza, Luís Marques Mendes e António Lobo Xavier. Cavaco Silva toma também posse destas funções que exerce na qualidade de ex-Presidente da República.

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