A ministra que "não se mete atrás" está debaixo de fogo

Constança Urbano de Sousa é descrita como "acessível", "conhecedora", "competente" e uma mulher "muito à frente", mas tem estado debaixo de críticas nos últimos dias por causa da gestão do combate aos incêndios.

 António Costa e Constança Urbano de Sousa na reunião desta terça-feira na sede da Protecção Civil
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A ministra apareceu em público na terça-feira Miguel Manso
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Miguel Manso

Não tem grandes relações no Governo, mas tem a relação que faz a diferença, com António Costa. Constança Urbano de Sousa pode ser pouco conhecida dos colegas, do público e até gerir a imagem com discrição, mas quem lida com a ministra da Administração Interna (MAI) há anos diz que de discreta tem muito pouco.

Não se tem ouvido muito, entrevistas deu poucas e declarações em público não são o seu forte. Tem gerido com pinças a imagem pública e esteve fora do radar das notícias até esta semana, com a escalada dos fogos e em que apareceu na Flash por ter estado numa festa quando o país começava a arder. Foi então que interrompeu as férias em família na praia de Cabanas, em Tavira, para aparecer numa visita à Protecção Civil e depois num roteiro pelo país que está em chamas, no qual surgiu até a agarrar numa mangueira dos bombeiros.

A imagem que queria passar era de força e de solidariedade para com os homens que andam no terreno e com isso responder aos críticos que a têm acusado de andar discreta e não segura na sua actuação. Os críticos, sobretudo alguns deputados do PSD como Carlos Abreu Amorim, Sérgio Azevedo ou Duarte Marques, criticam "a invisibilidade voluntária da ministra que já deu muito nas vistas", que é como quem diz o facto de a governante ter estado desaparecida demasiado tempo em pleno mês de incêndios. "Não posso admitir que a irresponsabilidade de uma ministra e de um primeiro-ministro sejam disfarçados com uma crítica cobarde aos restantes parceiros europeus", escreveu Duarte Marques no Facebook.

Mas não é essa a visão geral, não sobre o caso em particular, que tem dela quem com ela privou. "Ela é uma mulher muito para a frente, afirma os seus pontos de vista, às vezes até era criticada por dar sempre a cara”. A imagem é dada por um social-democrata, o eurodeputado Carlos Coelho, que a conheceu e trabalhou de perto com a agora ministra da Administração Interna quando ela estava na Representação Permanente (Reper) de Portugal em Bruxelas, a liderar a área da Justiça e dos Assuntos Internos.

“Ela não se mete atrás”, reforça o eurodeputado. Contudo, esta imagem contrasta com a da mulher que, quando apareceu em público por causa dos incêndios, o fez colocando-se atrás do primeiro-ministro.

Constança Urbano de Sousa, nascida em Coimbra, filha do ex-provedor de Justiça Alfredo José de Sousa, não fez carreira nos partidos. É difícil encontrar no Governo e no PS alguém que diga que a pode descrever por conhecimento de causa. Em termos políticos, é, na descrição de um socialista, “uma criação do seu criador”. E o criador tem por nome António Costa, que a escolheu para fazer parte do Governo depois de ter trabalhado com a professora de Direito quando foi ministro da Administração Interna (2005-2007).

O facto de não ter feito carreira nos partidos não a impediu de fazer parte de gabinetes governamentais desde cedo. Tem 49 anos, mas já em 2000 integrou equipas no Governo de António Guterres, também no MAI. Com a saída do Governo, Constança rumou a Bruxelas para a Reper onde foi Coordenadora do Núcleo Justiça e Assuntos Internos.

Foi na Reper que conheceu Carlos Coelho que lhe reconhece a competência. O eurodeputado recorda que foi quando a agora ministra estava a preparar a presidência portuguesa da União Europeia que se conseguiu estender o sistema de informação de Schengen. “No que toca a Schengen, migrações, ela é top”, diz o social-democrata.

Além dos cargos na máquina do Estado, Constança foi também professora na Universidade Autónoma e no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI). Dar aulas no ISCPSI deu-lhe proximidade à polícia, que agora tutela. “Do que conheço, é uma pessoa acessível, simpática e afável, não mudou muito a sua maneira de ser. É conhecedora dos meios e tem sensibilidade por conhecer a instituição melhor do que qualquer outro ministro. Mas falta-lhe peso político”, diz ao PÚBLICO Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia.

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