Tensão entre PSP e activistas pró-Palestina na celebração da fundação de Israel em Lisboa

Convidados da cerimónia organizada pela Embaixada de Israel em Lisboa foram desviados para as traseiras do Cinema São Jorge. Alguns foram atingidos com tinta.

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Manifestantes reagem enquanto um convidado da cerimónia exibe uma bandeira de Israel Carolina Amado
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Convidado da cerimónia exibe bandeira israelita na varanda do São Jorge Carolina Amado
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Cerca de duas centenas de manifestantes concentram-se à porta do São Jorge Carolina Amado
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Mantém-se no local um forte dispositivo policial Carolina Amado
Manifestantes estão concentrados nas traseiras do Cinema São Jorge, para onde a polícia encaminhou os convidados da cerimónia
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Manifestantes estão concentrados nas traseiras do Cinema São Jorge, para onde a polícia encaminhou os convidados da cerimónia Rui Miguel Ribeiro
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Manifestantes estão concentrados nas traseiras do Cinema São Jorge, para onde a polícia encaminhou os convidados da cerimónia Rui Miguel Ribeiro
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Cerca de duas centenas de activistas pró-palestinianos, rigorosamente controlados pela polícia de intervenção, manifestaram-se esta noite contra as celebrações do 76.º aniversário da fundação do Estado de Israel, promovidas pela representação diplomática hebraica, no Cinema São Jorge, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

O protesto começou por volta das 18h. Pelas 21h30, os manifestantes continuavam no exterior, empunhando bandeiras palestinianas e entoando cânticos contra o "genocídio" que dizem estar em curso na Faixa de Gaza. Durante uma pausa na cerimónia que decorria no interior do cinema, alguns dos convidados deslocaram-se para a varanda do São Jorge, onde exibiram uma bandeira israelita à multidão em protesto.

À medida que abandonavam o evento organizado pela embaixada israelita, os participantes eram vaiados e assobiados pelos manifestantes. “Sionistas, fascistas, chegou a vossa hora. A Palestina fica e vocês vão embora”, ouvia-se.

O protesto foi convocado pela Plataforma Unitária em Solidariedade com a Palestina (PUSP) e foi acompanhado por um forte contingente policial, iniciado com a Equipa de Intervenção Rápida (EIR) e, depois, com o Corpo de Intervenção da PSP, sem registo de confrontos até às 23h.

Pelas traseiras

A entrada dos convidados para a cerimónia de celebração dos "76 anos da independência" de Israel, organizada pela embaixada israelita em Lisboa, inicialmente prevista para a entrada principal do cinema, fez-se pelas traseiras do edifício, para onde alguns manifestantes ainda conseguiram atirar sacos com tinta, que acertaram em alguns dos convidados.

A decisão de fazer entrar os convidados pelas traseiras do cinema foi tomada pela polícia, depois de dezenas de manifestantes se prostrarem defronte da entrada principal, do lado na Avenida da Liberdade. Aos poucos, e no meio da alguma tensão face à presença das diferentes unidades da PSP, os manifestantes, ao aperceberem-se de que os convidados estavam a entrar pelas traseiras do edifício, também tentaram chegar ao local.

Embora alguns activistas pró-palestinianos se tenham mantido diante do cinema, a maioria acabou por concentrar-se já no Largo Jean Monet, nas proximidades do edifício, onde se sentaram e continuaram a gritar palavras de ordem contra Israel.

Empunhando bandeiras palestinianas e cartazes de protesto, os manifestantes gritaram palavras de ordem como "viva a luta do povo palestiniano", "[Carlos] Moedas patrocina propaganda assassina" ou "sionismo é violência, Palestina é resistência", além de referências a 76 anos de "ocupação, apartheid, roubo de terras e de genocídio".

O protesto organizado pela PUSP continuou a partir das 20h com uma vigília que visou denunciar a "expulsão de milhões de pessoas palestinianas das suas casas e terras, assim como uma ocupação mortífera de quase oito décadas, sobre as quais teve base a fundação do Estado de Israel".

A vigília conta com intervenções de uma refusenik (judeus activistas e objectores de consciência que recusam prestar serviço militar), de duas pessoas palestinianas e de um membro do colectivo "Judeus pela Paz e pela Justiça", mantendo depois disso o habitual formato de microfone aberto.

Em declarações à agência Lusa, Júlia Branco, activista política pró-palestiniana, considerou "vergonhoso" que a Câmara Municipal de Lisboa e o cinema de São Jorge "dêem palco a assassinos" e "a pessoas que estão a matar crianças, pessoas completamente inocentes, aos milhares". "Acho vergonhoso que a nossa cidade dê palco a estas pessoas. Mas fico feliz de ver aqui tantas pessoas a resistirem e a denunciarem este crime de que Portugal está a ser cúmplice", acrescentou. "Acho ridícula a presença de um forte contingente policial, quando são só pessoas a manifestarem-se pacificamente contra algo que me parece básico, alimentar a dissidência humana", prosseguiu.

Como o PÚBLICO noticiou, um conjunto de trabalhadores do São Jorge e da empresa municipal que o gere, a EGEAC, lançou um manifesto na terça-feira contra a utilização daquela sala para este propósito, acrescentando mesmo que a "falta de acção [da empresa] em relação à Palestina é notória e preocupante".

Questionada pela Lusa sobre a decisão anunciada esta quarta-feira pela Espanha, Noruega e Irlanda de reconhecerem a 28 deste mês a Palestina como Estado independente, Júlia Branco defendeu que Portugal deveria fazer o mesmo. "O governo português tem de reconhecer o Estado da Palestina já! Espanha já o fez, a Irlanda já o fez, a Noruega já o fez. Não sei do que é que está Portugal à espera", concluiu.

Comunidade Israelita repudiou cânticos entoados pelos manifestantes

Em comunicado, a Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) acusou os manifestantes de entoarem "cânticos, insultuosos e radicais".

"A par de tais cânticos (...) os manifestantes procuraram intimidar quem entrava no cinema para, pacificamente, participar numa cerimónia protocolar, simbólica e evocativa de uma efeméride crucial para o Povo que sobreviveu ao Holocausto: a criação de um país ao qual podem, há 76 anos, chamar o seu país", realçou a CIL.

Esta comunidade apontou que os participantes da manifestação recolheram imagens de quem entrava para "poderem mais tarde, como feito para este ano nas redes sociais recorrendo a imagens do ano passado, exibir e "denunciar" rostos de pessoas concretas que estiveram presentes na ocasião".

A CIL condenou ainda as palavras de ordem como uma "Palestina do Rio até ao mar" e "Palestina está na hora, de Israel ir-se embora". "Este é um discurso intolerante e perigoso. A liberdade de expressão, um pilar tão importante da democracia, foi poluída por um discurso marcado por um anti-semitismo primário. A liberdade de manifestação foi corrompida por actos de intolerância e de insulto gratuito, mas sobretudo de inaceitáveis ofensas e agressões físicas", referiu ainda.

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