China enfrenta a maior queda dos preços em 15 anos

Inflação recuou para 0,8% em Janeiro, adensando os riscos de uma queda prolongada dos preços na segunda maior economia mundial.

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Em 2023, a economia chinesa cresceu 5,2% EPA/MARK R. CRISTINO
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A taxa de inflação na China está há quatro meses em terreno negativo — com o índice de preços a um nível inferior ao que se regista no mês homólogo — e, em Janeiro, essa diferença acentuou-se, com a taxa a cair para -0,8%.

Segundo o jornal Financial Times, foi a queda mais acentuada desde Setembro de 2009 (a maior em 15 anos), levando analistas económicos a alertarem para as consequências que uma descida prolongada dos preços terá na confiança das empresas e dos consumidores na segunda maior economia do mundo.

A trajectória vem reavivar o risco de se verificar na economia chinesa uma prolongada deflação (uma diminuição dos preços) num momento em que a recuperação da China está a ser mais lenta do que o previsto, ainda a ressentir-se dos efeitos da “política covid zero” como resposta à pandemia. Em 2023, a China cresceu 5,2% e, embora o resultado tenha sido ligeiramente superior ao previsto, foi um dos mais baixos em décadas.

Quando em Outubro entrou em terreno negativo, a taxa de inflação ficou nos -0,2%; em Novembro a quebra acelerou-se para -0,5%, mas em Dezembro a diferença já foi menor, com o índice a passar para -0,3%; agora há de novo uma quebra mais acentuada, com a variação a ser de -0,8%.

Apesar de a trajectória homóloga ser negativa nos últimos meses, o índice de preços aumentou entre Dezembro e Janeiro a um ritmo de 0,3%.

A Reuters refere que os economistas inquiridos pela agência estavam a prever que a descida homóloga da inflação fosse de 0,5%, inferior à que se verificou, e apostavam numa subida mensal de 0,4%, superior à que ocorreu.

A trajectória dos últimos meses, faz notar o Financial Times, coincide com um momento em que a China enfrenta uma quebra prolongada no sector imobiliário, um arrefecimento nas receitas das exportações e um mau momento no mercado bolsista, o que já obrigou as autoridades de Pequim a nomearem um novo responsável pelo regulador do mercado de valores mobiliários.

Os riscos de uma deflação, diz o jornal South China Morning Post, sediado em Hong Kong, deverão continuar a ensombrar a segunda maior economia global, pondo em evidência a fraca procura e o impacto real da crise no sector imobiliário (visível no processo de liquidação da construtora e promotora imobiliária China Evergrande Group).

À Reuters o presidente da Pinpoint Asset Management, Zhiwei Zhang, defendeu que a China “precisa de tomar medidas rapidamente e de forma assertiva para evitar que as expectativas deflacionistas se enraizem entre os consumidores”, considerando que se, por um lado, a política monetária se tornou “mais favorável” para agir neste momento, por outro, a “evolução da política orçamental” da China está a ser “lenta”.

Eswar Prasad, professor de Economia na Universidade de Cornell e antigo responsável pelo acompanhamento da China no Fundo Monetário Internacional (FMI), entende que os vários indicadores evidenciam que estamos num “momento perigoso para a economia e os mercados financeiros” na China. Ao Financial Times o economista afirma que “a deflação persistente da China e os mercados bolsistas em dificuldades indicam que a procura das famílias e a confiança do sector privado continuam fracas, pondo riscos significativos sobre as perspectivas de crescimento da economia”.

Kerry Craig, analista de mercado global da J.P. Morgan Asset Management, disse à Reuters que as autoridades chinesas, com a substituição do responsável do regulador do mercado de capitais antes da semana das celebrações do Ano Novo Lunar, estão a tentar segurar o barco “até que o sector imobiliário se recomponha” e os preços comecem a subir e os consumidores sintam esse efeito. Mas, avisa, já há investidores que começaram a ir “para outros mercados fora da China, ou, pelo menos, a diversificar” a carteira de investimentos.

Dados económicos divulgados na quarta-feira indiciam que a China está a ter uma recuperação do mercado automóvel. As vendas de veículos aumentaram quase 50% em Janeiro face ao mesmo mês de 2023 (para cerca de 2,44 milhões de unidades), diz a Lusa a partir de Pequim, com base em dados da Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM).

As vendas para os mercados externos também estão a recuperar, numa perspectiva anual. Segundo a Lusa, a China exportou cerca de 443 mil veículos no primeiro mês de 2024. Embora haja uma quebra de 11% face a Dezembro, há uma melhoria de 47% em relação a Janeiro de 2023.

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