Putin promete cereais gratuitos a seis países africanos

Presidente diz que boas colheitas permitem à Rússia substituir-se à Ucrânia, mas a Ocidente suspeita-se que os cereais sejam pagos pelo Qatar e podem ter origem em territórios ucranianos ocupados.

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Putin acusa o Ocidente de hipocrisia SPUTNIK/Reuters
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Vladimir Putin abriu a cimeira Rússia-África esta quinta-feira com a promessa de fornecer cereais gratuitamente a seis países africanos. O Presidente russo disse que o país tem capacidade para enviar “25 a 50 mil toneladas” de cereais para o Burkina Faso, o Zimbabué, o Mali, a Somália, a República Centro-Africana e a Eritreia “nos próximos três, quatro meses”.

Como já tinha escrito numa carta aberta no início da semana, Putin afirmou que a Rússia vai ter este ano um volume de colheitas recorde e que poderá substituir-se à Ucrânia como fornecedora dos muitos países africanos que dependem destes cereais para sobreviver.

O Financial Times noticiou na semana passada que o plano russo não é ceder os cereais gratuitamente a estes países, mas antes fazer-se pagar pelo Qatar. O jornal britânico teve acesso a uma proposta em que o emirado assumiria todos os custos de exportação para a Turquia, de onde depois os produtos alimentares seriam remetidos para os países africanos “mais necessitados”.

Nem a Turquia nem o Qatar terão ainda concordado com essa proposta. Ao mesmo tempo, diplomatas ocidentais disseram ao jornal que suspeitam que os cereais que a Rússia está a oferecer são os cultivados e colhidos nas zonas ocupadas da Ucrânia.

“O nosso país vai continuar a apoiar os Estados e regiões necessitadas”, disse Putin na cimeira. “Estamos a fazer todos os esforços para evitar uma crise alimentar global”, acrescentou, segundo a agência de notícias russa Tass.

A cimeira, que se realiza pela segunda vez, decorre em São Petersburgo estas quinta e sexta-feira. Face ao encontro de Sochi, a participação africana de alto nível é desta vez mais pequena: a cimeira conta com 21 chefes de Estado e de Governo, menos de metade dos que estiveram na de 2019. Ainda assim, a Rússia assegura que estão representados 49 dos 54 países africanos.

A Rússia decidiu abandonar o acordo sobre os cereais ucranianos na semana passada e lançou uma vaga de ataques aéreos contra infra-estruturas portuárias, tanto no mar Negro como no Danúbio, que visaram depósitos e outras instalações relacionadas com a exportação desses produtos.

Putin tem-se queixado de que um outro acordo assinado na mesma data, mas relativo aos cereais e fertilizantes russos, nunca foi cumprido. No Ocidente, mas também em países africanos como o Quénia, acusou-se o líder russo de pôr em perigo a segurança alimentar mundial.

“Por um lado, os países ocidentais impedem os fornecimentos dos nossos cereais e fertilizantes” através das sanções, contrapôs Putin na cimeira desta quinta. “Por ouro lado, acusam-nos hipocritamente da actual situação de crise nos mercados mundiais.”

Prigozhin em S. Petersburgo

O primeiro dia da cimeira Rússia-África terminou com mais uma novidade: Yevgeny Prigozhin, o líder do grupo paramilitar Wagner, está em São Petersburgo.

Dmitri Siti, um dos homens do Wagner na República Centro-Africana, partilhou uma fotografia em que Prigozhin cumprimenta Freddy Mapouka, o chefe de protocolo do Presidente daquele país, onde os mercenários têm uma presença significativa. A fotografia terá sido tirada num hotel de São Petersburgo que pertence à família de Prigozhin.

O patrão da milícia que abortou uma rebelião contra Moscovo no fim de Junho concordou em mudar-se para a Bielorrússia na sequência desse episódio, mas tem passado muito tempo na Rússia e até se encontrou com Vladimir Putin no Kremlin.

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