Moscovo diz que transferiu 700 mil crianças de zonas de conflito da Ucrânia para a Rússia

Kiev diz que, actualmente, mais de 19 mil crianças ainda estão, ilegalmente, na Rússia. Moscovo diz que as crianças ucranianas no país “encontraram refúgio” longe dos bombardeamentos na Ucrânia.

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Até Abril, apenas 95 crianças ucranianas foram devolvidas às famílias Adriano Miranda

A Rússia transferiu cerca de 700 mil crianças das zonas de conflito na Ucrânia para o território russo, disse este domingo Grigori Karasin, director do comité internacional no Conselho da Federação, a câmara alta do Parlamento da Rússia. “Nos últimos anos, 700 mil crianças encontraram refúgio junto de nós, fugindo dos bombardeamentos e ataques das áreas de conflito na Ucrânia”, escreveu Karasin no Telegram.

Moscovo diz que o seu programa de retirar crianças da Ucrânia para o território russo visa proteger os órfãos e as crianças abandonadas na zona de conflito. No entanto, a Ucrânia afirma que muitas crianças foram deportadas ilegalmente e os Estados Unidos dizem que milhares de crianças foram retiradas à força das suas casas.

A grande parte da movimentação de adultos e crianças aconteceu nos primeiros meses de guerra, antes de a Ucrânia começar uma contra-ofensiva para reconquistar território ocupado no Leste e Sul, em Agosto.

O Ministério da Integração em Territórios Ocupados da Ucrânia diz que, actualmente, 19.492 crianças ucranianas são consideradas deportadas ilegalmente. Em Julho de 2022, os Estados Unidos estimavam que a Rússia já tinha "deportado à força" 260 mil crianças.

TPI acusou Putin de crimes de guerra por deportação ilegal

Foram as acusações de transferência de crianças para a Rússia que fizeram com que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitisse, em Março deste ano, um mandado de captura contra Vladimir Putin, por ser "alegadamente responsável pelo crime de guerra de deportação ilegal de população e transferência ilegal de população". O TPI também emitiu um mandado de detenção de Maria Alekseyevna Lvova-Belova, comissária russa para os Direitos da Criança.

Em Fevereiro, a Universidade de Yale, ao abrigo do programa Conflict Observatory, acusou Moscovo de levar a cabo um programa de "reeducação de menores ucranianos" transferidos para campos especializados espalhados pela Rússia.

O estudo apontava para cerca de seis mil crianças nessa situação, com idades entre os quatro meses aos 17 anos, apesar de reconhecerem que o número real de jovens pudesse ser "provavelmente, bastante mais elevado".

Em Agosto de 2022, os meios de comunicação de propaganda russa anunciaram um acampamento de Verão para o qual as famílias ucranianas podiam enviar as crianças para terem uma "folga de guerra". No final de Setembro e uma semana depois do previsto, noticiou o The Washington Post, mais de 200 crianças enviadas para o acampamento ainda não tinham voltado.

Na altura, Volodymyr Matrokyn, autarca de Izium, uma das cidades onde dezenas de pais esperavam o regresso dos filhos, acusou a Rússia de violar "o direito internacional e os direitos humanos" e disse que Moscovo "inventava histórias de propaganda para os russos, que são enganados por essas mentiras sobre o suposto amor e protecção dos pequenos ucranianos".

Até Abril de 2023, 95 jovens ucranianos foram devolvidos às famílias pela associação de apoio Save Ukraine, criada por Mykola Kuleba, antigo comissário presidencial para os direitos das crianças.

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