Para a Ucrânia, o segredo é a alma da contra-ofensiva

Rússia diz ter repelido um ataque “em larga escala”, mas Kiev só admite que as suas forças estão a “mudar para acções ofensivas”, centradas para já em Bakhmut.

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Soldados ucranianos na cidade de Vovchansk, perto da fronteira com a Rússia Reuters/VIACHESLAV RATYNSKYI
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Poderá não ser ainda a tão esperada grande contra-ofensiva, mas o Governo ucraniano avançou esta segunda-feira que as suas forças estão a “mudar para acções ofensivas” em algumas áreas do país. O anúncio, feito pela vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, apareceu horas depois de Moscovo ter dito que repeliu, no domingo, uma “ofensiva em larga escala” na região de Donetsk, na qual, alega, 250 militares ucranianos foram mortos e dezenas de veículos de combate ucranianos foram destruídos.

Kiev não confirmou os ataques de domingo e a vice-ministra da Defesa disse, através da plataforma Telegram, que as alegações russas não passavam de contra-informação destinada a “desviar a atenção da derrota sofrida na direcção de Bakhmut”.

“O que está a acontecer agora? Continuamos a defesa iniciada em 24 de Fevereiro de 2022. A operação defensiva inclui tudo, inclusive as acções contra-ofensivas. Portanto, em algumas áreas, estamos a mudar para acções ofensivas”, escreveu Maliar, dizendo que Bakhmut “continua a ser o epicentro das hostilidades”.

Para a Ucrânia, o segredo é a alma da batalha. “Não temos essas informações e não comentamos qualquer tipo de notícias falsas”, afirmou um porta-voz militar ucraniano à Reuters, reagindo às alegações russas.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, disse também à Reuters que a Ucrânia já possui armas suficientes para a tão aguardada contra-ofensiva, mas recusou admitir que esta já estivesse em andamento.

No domingo, o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, partilhou um vídeo a mostrar soldados ucranianos com o dedo nos lábios e as palavras “os planos gostam do silêncio”.

Moscovo avançara, na manhã desta segunda-feira, que as forças russas tinham conseguido repelir, no dia anterior, uma ofensiva ucraniana na província de Donetsk. “Na manhã de 4 de Junho, o inimigo lançou uma ofensiva em grande escala em cinco sectores da frente na direcção sul de Donetsk”, disse o Ministério da Defesa, num comunicado publicado no Telegram.

“O objectivo do inimigo era romper as nossas defesas no sector mais vulnerável, na sua opinião, da frente. O inimigo não teve sucesso”, acrescentou o comunicado.

O porta-voz do Ministério, Igor Konashenkov, disse que 250 militares ucranianos foram mortos e 16 tanques, três veículos de combate e 21 blindados ucranianos foram destruídos. Um vídeo publicado pelo Kremlin mostra alegados veículos blindados ucranianos, filmados do ar, a serem destruídos pelas forças russas.

No seu relatório nocturno, o Estado-Maior ucraniano não fez menção a qualquer operação ofensiva em grande escala, ou sugeriu qualquer outro desvio do ritmo habitual dos combates na linha da frente.

Kiev confirmou, no entanto, a reconquista de território em Bakhmut. A vice-ministra da Defesa disse na televisão estatal que as forças ucranianas fizeram avanços de 200 a 1600 metros em redor de duas localidades situadas a norte da cidade e de 100 a 700 metros em torno de aldeias a oeste e a sul de Bakhmut.

“O foco principal é agora o sector de Bakhmut”, disse Hanna Maliar. “Até agora, os ataques tiveram algum sucesso, incluindo o controlo de certas posições elevadas”, acrescentou.

Logo pela manhã, o líder do grupo Wagner, Ievgueni Prigojin dissera que as forças ucranianas tinham agora o controlo de parte da vila de Berkhivka, a norte de Bakhmut, uma perda que classificou como “uma desgraça”.

O grupo mercenário capturou Bakhmut em Maio, depois de meses de confrontos com as tropas ucranianas, mas na semana passada anunciou a retirada das suas forças, descontente com as chefias militares russas, nomeadamente o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o comandante da tropa russa na Ucrânia, Valery Guerasimov.

As “acções ofensivas” nomeadas pela vice-ministra da Defesa ucraniana podem, ainda assim, ser consideradas como a antecâmara da contra-ofensiva, para a qual os Estados Unidos consideram a Ucrânia “muito bem preparada”, nas palavras de Mark Milley, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas norte-americanas.

Por sua vez, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, previu que a contra-ofensiva ucraniana será capaz de recapturar “território estrategicamente significativo”.

“Exactamente quanto e em que sítios dependerá dos desenvolvimentos no terreno, à medida que os ucranianos iniciarem a sua contra-ofensiva”, disse Sullivan, citado pela CNN, acrescentando: “Mas acreditamos que os ucranianos terão sucesso na contra-ofensiva.”

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