“Israel já não é o país pelo qual o meu filho morreu”: tensão no Dia da Memória

Plano para “golpe” judicial do Governo de Netanyahu contestado por famílias de pessoas que morreram a combater pelo Estado hebraico.

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O dia em que se lembram as pessoas mortas em combate pelo Estado judaico (ou vítimas de ataques) não escapou à actual divisão do país ATEF SAFADI/EPA

O dia em que se lembram as pessoas mortas por lutarem pelo Estado de Israel ou vítimas de ataques contra o Estado hebraico assinalou-se esta terça-feira com uma divisão excepcional no país. Muitos representantes de grupos de pessoas que perderam familiares em combate pediram aos políticos para não irem aos cemitérios. Estes acusaram os familiares de usarem o dia para protestar contra o Governo.

Asaf Halamish, cujo filho, Zohar, morreu sob fogo no Líbano em 1993 aos 21 anos, disse que políticos que não cumpriram o serviço militar não deviam estar presentes nos cemitérios, quando as famílias homenageiam os seus mortos.

Mas não foi isso que aconteceu: o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, e que não fez serviço militar porque era considerado um perigo por ser demasiado extremista, visitou, sob grande segurança, um cemitério em Beersheba, no Sul, onde discursou.

Noutros cemitérios, conta a Reuters, antes de assinalarem os dois minutos de silêncio pelas pessoas que morreram, famílias zangadas interromperam a visita de membros do Governo gritando “vergonha” e cantando o hino nacional.

Este Israel, declarou Halamish à Reuters, “já não é o meu país, não é aquele em que nasci, não é aquele em que fui criado, não é aquele por que lutei, e não é aquele pelo qual o meu filho morreu”.

Os protestos contra o chamado “golpe judicial” têm tido um lado patriótico, sublinhado pelo uso, pelos manifestantes, da bandeira de Israel, e previa-se que houvesse protestos nesta quarta-feira, quando se assinalam 75 anos da fundação do Estado de Israel.

Isto levou a situações caricatas, como duas relatadas pela jornalista Noga Tarnopolsky no Twitter: numa, a polícia impediu que habitantes de Zichron Yaacov (a sul de Haifa) marchassem com a bandeira israelita e “outros símbolos de protesto”. “Esta é a primeira vez”, comenta Tarnopolsky, “que se impede israelitas de empunhar a bandeira de Israel”.

Já as autoridades da cidade de Raanana, conta ainda a jornalista, rejeitaram o pedido de algumas pessoas para celebrarem o dia da Independência de Israel com uma faixa de 25 metros de comprimento por seis de largura por “preocupação com a segurança”.

O Governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, aliado à extrema-direita de Ben-Gvir, e a dois partidos ultra-ortodoxos, tentou levar a cabo várias mudanças radicais em Israel, sendo a mais relevante a reforma judicial, como lhe chama o Governo (os seus críticos e alguns media dizem "golpe judicial"), que retiraria ao Supremo Tribunal o poder de declarar leis inconstitucionais e faria com que os juízes, agora escolhidos por um painel de magistrados, advogados e políticos, passassem a ser exclusivamente nomeados pelo Governo.

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