Filho de porta-voz de Putin disse que combateu com o grupo Wagner na Ucrânia

Nikolai Peskov declarou numa entrevista que esteve a combater com a força conhecida pela sua brutalidade. Seria um caso único de um filho de um responsável do regime participar na guerra.

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Dmitri Peskov é porta-voz de Putin há oito anos. O seu filho Nikolai diz que combateu na Ucrânia Reuters/SPUTNIK

Nikolai Peskov, filho do porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov, declarou numa entrevista que esteve a combater na Ucrânia numa unidade do grupo Wagner.

Peskov, de 33 anos, disse que esteve seis meses como um simples elemento do regimento de artilharia, com um nome falso.

A mobilização russa na Ucrânia tem contado sobretudo com militares vindos das províncias e não da elite de Moscovo. O grupo Wagner tem-se destacado ainda pela sua estratégia de retirar condenados da prisão, prometendo-lhes liberdade após um período a combater na Ucrânia. Uma participação de Peskov na guerra seria um caso único de um filho de uma personalidade do regime.

No início da "operação militar especial" russa na Ucrânia, para destacar a diferença entre os russos comuns, que poderiam ser chamados para combate, e os que são de famílias de elite, um membro da equipa do opositor Alexei Navalny telefonou a Nikolai Peskov fazendo-se passar por um militar que o estava a contactar para o informar de que estava a ser chamado a combater.

“Se sabe que sou o sr. Peskov, devia perceber o quão errado é eu estar lá”, respondeu. “Vou resolver isto a outro nível”, disse ainda, na chamada que foi gravada. “Não tenho problemas em defender a minha pátria, mas tenho de entender a conveniência de estar lá, certas nuances políticas”, declarou.

Agora, o mesmo Peskov diz que esteve a combater na Ucrânia, sob a alçada do grupo Wagner, que tem estado na linha da frente de batalha a provocar um número muito elevado de baixas, em especial em Bakhmut. Oficialmente, a Ucrânia estima que por cada baixa sua há sete baixas russas, e a Rússia disse há semanas que num período de 24h matou mais de 220 militares ucranianos, diz a BBC, sublinhando que não é possível verificar nenhum dos números.

O grupo Wagner é ainda conhecido pela sua brutalidade. Um desertor do grupo que conseguiu fugir para a Noruega, onde pediu asilo, disse que testemunhou crimes de guerra, incluindo desertores serem assassinados. “Os prisioneiros são usados como carne para canhão”, declarou ainda. “Na minha unidade de 30 homens, só sobreviveram três.”

"Apenas uma pessoa"

“Fui por minha iniciativa”, disse Nikolai Peskov, de 33 anos, ao jornal privado Komsomolskaya Pravda. “Considerei que esse era o meu dever.”

O pai – porta-voz de Vladimir Putin há oito anos – “ficou orgulhoso” pela decisão do filho, disse ainda Peskov, não referindo o local em que serviu durante pouco menos de meio ano.

O jornal destacou ainda que Peskov teria recebido uma medalha de coragem.

O fundador do grupo Wagner, Ievgeni Prigojin, declarou no seu canal no Telegram que Dmitri Peskov o tinha contactado e pedido para que o seu filho combatesse com o grupo na Ucrânia.

“De todo os meus conhecidos, apenas uma pessoa, Dmitri Sergeivich Peskov, que a dada altura se dizia que era um liberal, mandou o seu filho. Veio ter comigo e disse-me: ‘Leve-o como um simples soldado de artilharia’”, contou o fundador do grupo que durante muito tempo negou ter uma vertente militar.

Nikolai Peskov fez serviço militar numa força estratégica de rockets entre 2010 e 2012. Nascido em 1990, viveu no Reino Unido após o fim da União Soviética em 1991, durante dez anos, segundo o jornal Kommersant.

O grupo Wagner só recentemente assumiu ser uma força de combate. O grupo, que é ao mesmo tempo uma força paramilitar, e é ainda contratado para proteger interesses russos, tem-se destacado pela sua crescente presença em África. É suspeito de estar a apoiar paramilitares no Sudão no conflito actual.

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