Ex-fuzileiro Vadym Hrynko confessa ter socado e pontapeado Fábio Guerra na cabeça

Advogado de defesa acusou juízes de “já terem a cabeça feita” sobre culpabilidade dos arguidos, o que motivou acesa troca de palavras com magistrados.

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Discoteca Mome, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

O ex-fuzileiro de origem ucraniana Vadym Hrynko confessou esta quarta-feira em tribunal ter dado um soco e pontapeado o polícia Fábio Guerra há um ano, à porta da discoteca Mome, em Lisboa. Depois de brutalmente espancado, o agente da PSP de 26 anos acabaria por morrer no hospital, após passar 48 horas em coma.

Os agentes da autoridade tinham ido à discoteca divertir-se, depois de terem estado no jantar de aniversário de um colega. Encontravam-se à paisana e, segundo contaram mais tarde, entraram em acção para impedir o trio que o Ministério Público viria a inculpar pela morte de Fábio Guerra de continuar a bater num cliente à porta do estabelecimento. Foi aí que as atenções de Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko, ambos fuzileiros a contrato, e do amigo de ambos, Clóvis Abreu, um civil que continua a monte, se viraram para os polícias.

As autoridades dizem que o trio tinha uma forma muito peculiar de actuar, quando agredia alguém: um deles começava por deitar o alvo ao chão com um murro, e só depois de a vítima cair é que os outros dois a pontapeavam, na cabeça e noutras partes vitais.

Possivelmente graças à intervenção dos polícias o cliente da Mome conseguiu sobreviver, apesar dos pontapés que sofreu na cabeça naquela madrugada de 19 de Março. Mas Fábio Guerra, que foi alvo do mesmo tipo de agressão, já não. Continuou a ser pontapeado também na cabeça depois de já estar estendido no chão. Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko respondem agora em tribunal por homicídio qualificado, sujeitando-se a uma pena que pode ir até aos 25 anos de prisão.

A defesa de Cláudio Coimbra, que em 2021 foi campeão de boxe amador, insiste que não pode ter sido um pontapé a causar a morte ao jovem agente da PSP, uma vez que a autópsia refere um aneurisma no pescoço como causa de morte, e não lesões na cabeça, local do corpo onde a vítima foi pontapeada.

Segundo esta tese, o murro mortal terá sido desferido por Vadym Hrynko, que, por seu turno, não negou a agressão, perpetrada, segundo explicou em tribunal, para defender o amigo Cláudio Coimbra no meio da pancadaria. “Vi-o a ser atacado e dei um soco no rapaz que lhe tinha dado a ele. Depois tentei afastá-lo com um pontapé”, havia dito na sessão de ontem, porém, admitindo apenas que podia ter acertado na vítima com os pés.

Mas esta quarta-feira, depois de as imagens de videovigilância desta e de outra discoteca da Av. 24 de Julho terem passado na sala de audiências, e de se ter aconselhado com o seu advogado, o arguido resolveu admitir ter pontapeado a vítima na cabeça.

Ambos os arguidos garantem só ter tido consciência da gravidade do que se passara muitas horas mais tarde, quando viram as notícias. Negam aquilo que os agentes da PSP afirmam peremptoriamente: que como estavam à paisana gritaram de forma audível que eram polícias, quando deram ordem para que cessassem as agressões.

Ouvido foi também em tribunal outro cliente de uma discoteca das imediações, o Plateau, que quando viu Fábio Guerra estendido depois de levar um primeiro pontapé e ser pontapeado outra vez. quando já estava no chão, resolveu ficar ao seu lado. “Fui para o pé dele, estava sozinho. Não faço ideia quem o atacou. Ficou no chão, ao meu colo, e ali ficou.” Quando o trio fugiu dali, estava o sol a nascer, várias testemunhas ouviram um deles – a acusação diz ter sido Clóvis Abreu, o foragido gabar-se: “Sou o rei do Montijo.” Um polícia do grupo que esteve no Mome diz tê-lo ainda ouvido dizer: Que ninguém se meta com os ciganos.

A audiência de julgamento desta quarta-feira, que ainda se encontra a decorrer, ficou marcada por uma acesa troca de palavras entre os juízes e o advogado de Cláudio Coimbra, Miguel Santos Pereira, depois de este último ter acusado os magistrados de “já terem a cabeça feita” sobre o que sucedeu à porta a discoteca e a culpabilidade dos arguidos.

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