Sabotagem no gasoduto Nord Stream pode ter sido causada por grupo pró-Ucrânia

O The New York Times, esta terça-feira, referiu, porém, que não há provas da participação do Governo ucraniano. Kiev já recusou ter responsabilidade na sabotagem do gasoduto.

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Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 sofreram ataques em Setembro de 2022 Reuters/FABRIZIO BENSCH

Novas informações divulgadas por oficiais norte-americanos, nesta terça-feira, indicam que o ataque no gasoduto Nord Stream​ no ano passado pode ter sido responsabilidade de um grupo pró-Ucrânia, avançou esta terça-feira o jornal norte-americano The New York Times. Até agora, os oficiais afirmam que não há provas de que Zelensky e o Governo ucraniano tenham estado envolvidos na operação.

No entanto, já há algum tempo que a Ucrânia tem sido apontada como potencial responsável pelo ataque. A lógica por detrás da acusação prende-se com o facto de o país se ter apresentado contra o projecto, já na altura da construção do gasoduto. Kiev justificou a posição contra por reconhecer que o gasoduto facilitaria a venda de gás à Europa por parte da Rússia, aumentando, assim, a influência de Moscovo no coração da União Europeia.

Depois da publicação do artigo do The New York Times, Mikail Podolyak, conselheiro de Zelensky, não tardou em negar o envolvimento da Ucrânia no ataque ao gasoduto. No Twitter, Podolyak ironizou sobre “gostar de coleccionar teorias da conspiração divertidas”, mas garantiu que “a Ucrânia não tem nada que ver com o que aconteceu no mar Báltico”.

Rússia pede investigação da ONU

O representante da Rússia nas Nações Unidas, Dmitry Polyansiy, afirmou que o artigo do New York Times vem “provar que a iniciativa de lançar uma investigação internacional sob tutela do secretário-geral da ONU é oportuna”, cita o The Guardian. Polyanskiy confirmou ainda que a Rússia planeia propor ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para abrir um inquérito.

Esta terça-feira, em conferência de imprensa com o primeiro-ministro da Suécia, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou que é errado especular sobre a sabotagem até se concluírem as investigações, avança a Lusa.

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Já em Setembro de 2022, pouco depois da sabotagem ao gasoduto, houve quem, nos Estados Unidos e na Europa considerasse que o ataque poderia ter sido originado pela Rússia. Segundo a Reuters, Fatih Birol, director executivo da Agência Internacional de Energia, chegou a afirmar que era “muito óbvio” quem era o responsável, mas não indicou nenhum nome.

Como afirma o The New York Times, porém, não são conhecidas as possíveis motivações que a Rússia poderia ter para causar estragos no gasoduto, tendo em conta que representa uma grande fonte de rendimentos para o país e reforça a dependência energética da Europa em relação à Rússia.

O Kremlin considerou “estúpidas” as acusações à Rússia e referiu que os Estados Unidos teriam mais interesse em sabotar o gasoduto, por terem a intenção de vender mais gás natural à Europa. Vladimir Putin foi mais longe e acusou directamente os Estados Unidos e os aliados de provocarem as explosões: “As sanções não foram suficientes para os anglo-saxónicos: eles passaram para a sabotagem.”

Em Fevereiro deste ano, o jornalista de investigação norte-americano Seymour Hersh publicou no seu site pessoal, uma reportagem na qual acusava a Marinha dos Estados Unidos de ter provocado as explosões no Nord Stream 1 e 2. Alegadamente, o jornalista — que recebeu um Pulitzer em 1970 terá recebido relatos de uma fonte anónima “com conhecimento directo do planeamento operacional” da missão.

Mergulhadores treinados para missões militares norte-americanos terão instalado explosivos com detonação remota nos gasodutos. Uns meses mais tarde, uma bóia hidroacústica lançada por um avião da Marinha norueguesa terá provocado as explosões.

A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, negou prontamente as acusações.

O ataque ao gasoduto permanece um dos grandes mistérios, desde o início da guerra

A 26 de Setembro de 2022, a Nord Stream 2 AG, empresa que opera o gasoduto, identificou uma fuga de gás numa das condutas perto da ilha dinamarquesa de Bornholm. No dia seguinte confirmou-se que também existiam danos no Nord Stream 1.

As autoridades suecas e dinamarquesas não tardaram a concluir que os danos teriam sido provocados por explosões. Os responsáveis pelas operações, no entanto, ficaram por se descobrir até hoje.

Na altura, a sofisticação do ataque e a execução não detectada da operação levou a que se levantassem suspeitas de que a sabotagem do gasoduto teria de ter contado com apoio governamental, como refere o The New York Times.

O Nord Stream 1 e Nord Stream 2 estendem-se por uma distância de mais de 1200 quilómetros entre a Rússia e a Alemanha. O primeiro ficou concluído em 2011 e custou mais de 11 mil milhões de euros. O Nord Stream 2 ficou completo dez anos mais tarde, em 2021, mas foi recebido com cepticismo por parte de países como os Estados Unidos e o Reino Unido, tendo em conta que provavelmente aumentaria a dependência da Alemanha em relação ao gás russo.

Em 2022, perante a ameaça da invasão russa da Ucrânia – que se veio a efectivar dois dias depois – o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou que o Nord Stream 2 seria bloqueado e acabaria por nunca se tornar operacional.

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