História das sapatilhas portuguesas em exposição na Casa do Design em Matosinhos

Colecção particular reunida pelo designer Pedro Carvalho de Almeida, que acompanha a evolução da indústria do calçado, pode ser vista até 27 de Agosto. Há núcleos dedicados à Sanjo e à Cortebel.

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Chuteiras de criança da marca Brinde Portugal, tamanho 30, década de 1960 Luís Espinheira/CORTESIA Sport’s Coleccionismo de Desporto

Uma colecção particular com 500 pares de sapatilhas de marcas portuguesas, reunida ao longo dos últimos 20 anos "de investigação no terreno", está na base da exposição que abre ao público este sábado na Casa do Design, em Matosinhos.

Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio, com curadoria do designer e professor Pedro Carvalho de Almeida, pretende, segundo o curador, "partilhar com o público em geral este universo de 500 pares de sapatilhas, representativos de cerca de cem marcas, e proporcionar uma retrospectiva histórica sobre a produção industrial nesta tipologia de calçado em Portugal".

Em declarações à Lusa, o curador disse que o segundo objectivo da mostra "é proporcionar um espaço para a reflexão crítica sobre a importância que este legado industrial representa" no contexto "da história da indústria portuguesa no século XX" e reflectir sobre como esta memória pode "ser [mais bem] preservada, partilhada e, sobretudo, potenciada à luz das grandes preocupações actuais".

Na base da exposição está a colecção de sapatilhas portuguesas de Pedro Carvalho de Almeida, que tem "para cima de 500 pares, de 77 marcas", e "resulta de uma investigação com 20 anos de trabalho no terreno" sobre uma indústria maioritariamente centrada no Norte do país (Porto, Braga, Guimarães, Felgueiras), mas com expressão também na região de Santarém e, ainda mais a norte, de Montalegre.

Os 500 pares que compõem a colecção foram "identificados em lojas, armazéns, feiras de velharias", tendo alguns deles sido "doados".

"Fundamentalmente esta colecção resulta de uma primeira parte de investigação dedicada à [marca de sapatilhas] Sanjo e depois de um outro projecto de investigação dedicado à Cortebel. E pelo meio foram-me chegando exemplares de outras marcas", contou.

Em Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio estão representadas cerca de 100 marcas, mais 23 do que na colecção de Pedro Carvalho de Almeida. As marcas das quais Pedro Carvalho de Almeida não tem exemplares foram identificadas "através de embalagens, publicidade e outros documentos, que demonstram factualmente que existiram".

Neste universo de cem marcas "foi possível identificar pelo menos três que ainda estão no activo e se encontram nas mãos dos proprietários originais". Apenas uma delas, a Desportex, "ainda funciona nas instalações originais", em Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira.

O par mais antigo que poderá ser visto na Casa do Design data da década de 1950, "embora a marca mais antiga presente na exposição remonte a 1932".

Botas para hóquei em patins fabricadas pela Desportex, empresa de Santa Maria da Feira Luís Espinheira
Sapatos com pitões para atletismo da Socidel, fabricados pela Desportex Luís Espinheira
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Botas para hóquei em patins fabricadas pela Desportex, empresa de Santa Maria da Feira Luís Espinheira

A mostra foi organizada por núcleos, "sendo o primeiro uma contextualização histórica da evolução das sapatilhas e da socialização do Desporto em Portugal". Há núcleos dedicados a duas marcas: um apresenta o caso da Empresa Industrial de Chapelaria, "no activo até 1996 e que foi responsável pela criação e pelo desenvolvimento das sapatilhas Sanjo", e o outro à Cortebel, marca que "serviu de base para um projecto de investigação desenvolvido em contexto industrial".

Para Pedro Carvalho de Almeida, este caso "demonstra o que é possível fazer-se numa lógica mais contemporânea".

Na exposição há também um núcleo que aborda "as principais tecnologias de produção utilizadas em Portugal, designadamente a vulcanização, a injecção de termoplásticos (solas injectadas) e a chamada montagem plana".

Num outro núcleo, baptizado de "Repositório", é apresentada uma instalação audiovisual que convida os visitantes a "contribuírem com histórias, memórias e objectos" para "a construção de um legado em permanente desenvolvimento".

A colecção de Pedro Carvalho de Almeida, "guardada em instalações próprias", está a ser "mostrada pela primeira vez" em Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio, mas, de acordo com o designer, está em desenvolvimento um protocolo com o Museu do Calçado, em São João da Madeira, onde "expectavelmente" a colecção poderá vir a ser visitável.

"Com o passar do tempo há aspeCtos que fazem com que mereça estar guardada em condições de protecção mais consentâneas com a sua importância e significado", defendeu o curador. Alguns exemplares "começam a ter problemas de degradação devido a flutuações de temperatura e humidade".

Sapatilhas: Marcas Portuguesas, do Estado Novo ao Virar do Milénio fica na Casa do Design até 27 de Agosto.

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