Familiares de vítimas da discoteca Kiss querem processar Netflix por série dramática

Pais pedem que parte dos lucros seja destinada à construção de um memorial.

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O incêndio de 2013 resultou na morte de 242 jovens Reuters/RICARDO MORAES

Um grupo de pais das vítimas do incêndio na discoteca Kiss, que há dez anos resultou na morte de 242 jovens em Santa Maria, Rio Grande do Sul, tendo deixado mais de 600 feridos, pretende processar a Netflix pela série Todo Dia a Mesma Noite, que dramatiza a história de algumas famílias a partir do momento da tragédia ao julgamento, em 2021.

Segundo o coordenador do grupo, o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes, que na tragédia perdeu a filha Évelin Costa Lopes, de 19 anos, o sentimento é de indignação e injustiça. As informações são do jornal GaúchaZH.

"Nós fomos apanhados de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos", disse Lopes ao jornal gaúcho.

Ainda segundo o empresário, há pais a sofrer por causa da série. "O mínimo que exigimos agora é que uma parte do lucro seja usada para tratamento de sobreviventes e para a construção do memorial da Kiss. Nós não queremos nenhum dinheiro para nós."

Pais e apoiantes iniciaram mobilização e criaram um grupo de WhatsApp para discutir o assunto, que consideram "exploração financeira da tragédia", de acordo com a publicação. Os familiares em causa não fazem parte da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.

A série Todo Dia a Mesma Noite é baseada no livro homónimo da jornalista Daniela Arbex, misturando realidade e ficção. De Gustavo Lipsztein, tem como protagonistas os actores Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho e Bianca Byington.

A advogada do grupo afirmou ao jornal que falará com a Netflix ainda esta semana para, ao menos, tentar um acordo para que parte do lucro seja destinada às vítimas, aos sobreviventes e à construção do memorial.

A causídica acredita que seja viável uma acção por danos morais e sequelas médicas, pois, alega, houve pais que voltaram para a terapia por causa da série.

Questionada pelo GaúchaZH e pelo F5, a Netflix escusou-se a comentar a situação.


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo

Nota: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.

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