Inflação recua na zona euro pelo segundo mês seguido

Taxa de inflação homóloga na zona euro passa de 10,1% em Novembro para 9,2% em Dezembro. O contributo veio essencialmente do recuo dos preços da energia.

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Preços da energia deram o principal contributo para a descida da inflação na zona euro Paulo Pimenta

A taxa de inflação homóloga voltou a recuar em Dezembro na zona euro, ficando agora abaixo dos 10%. Ainda assim, continuam a ser claros os sinais de que a pressão sobre os preços se está a generalizar a todos os tipos de produtos.

Sem surpresa, tendo em conta que já eram conhecidos os dados da inflação de Dezembro para vários Estados-membros (incluindo Portugal), o Eurostat revelou esta sexta-feira que a taxa de inflação homóloga na zona euro registou, tal como tinha acontecido em Novembro, uma descida. Os preços foram em Dezembro 0,3% mais baixos do que no mês imediatamente inferior, o que fez com que, em comparação com o mesmo mês do ano passado, a variação dos preços passasse de 10,1% em Novembro para 9,2% em Dezembro.

É um resultado que reforça a expectativa de que, finalmente, após várias subidas de taxas de juro por parte do Banco Central Europeu e de medidas de redução de impostos por parte de alguns governos, as pressões inflacionistas podem estar a perder força na Europa. O valor máximo da taxa de inflação homóloga na zona euro foi atingido em Outubro, quando este indicador chegou aos 10,6%.

Nos dados agora publicados pelo Eurostat, contudo, nem todos os indicadores são positivos. É muito claro, por exemplo, que o recuo na inflação homóloga se deveu em grande medida ao comportamento dos preços da energia, sendo que nos outros tipos de bens os sinais de uma suavização das pressões inflacionistas ainda não estão presentes.

Os preços dos bens energéticos, que foram os que a partir de Março mais contribuíram para a escalada da inflação, registaram em Dezembro uma quebra de 6,5% face a Novembro, o que fez descer a variação homóloga de 34,9% para 25,7%.

Em sentido contrário, a taxa de inflação homóloga subjacente – o indicador que exclui do cálculo da inflação os bens energéticos e alimentares, que são aqueles que têm preços mais voláteis – continuou a apresentar uma trajectória ascendente em Dezembro, subindo de 6,6% para 6,9%.

Quando voltarem a reunir-se durante este mês, os responsáveis do Banco Central Europeu – que têm como mandato colocar a taxa de inflação num valor próximo de 2% vão levar em conta estes dois factores. Por um lado, o recuo da taxa de inflação homóloga pelo segundo mês consecutivo mostra que o pior já terá passado, mas, por outro, o prolongamento das subidas de preços numa grande variedade de produtos para além dos energéticos e alimentares faz aumentar o receio de que a inflação se esteja a tornar um fenómeno persistente e mais difícil de controlar.

No final da última reunião, a presidente do BCE deixou claro, depois de decidir subir as taxas de juro de referência do banco central em mais 0,5 pontos percentuais, que novos movimentos semelhantes teriam de ser realizados nos meses seguintes. A ideia do banco central parece ser a de, mesmo perante os primeiros sinais de recuo nos preços, não permitir que se instalem entre as empresas e os consumidores expectativas de inflação mais altas, algo que, por sua vez, pode levar a que estes tenham comportamentos que geram ainda mais inflação.

Christine Lagarde sublinhou que várias novas subidas de taxas da mesma dimensão da realizada na última reunião iriam ser implementadas. Já Mário Centeno, que como governador do Banco de Portugal também faz parte do conselho que decide as taxas no BCE, disse que tudo dependeria dos dados económicos que venham a ser divulgados, reconhecendo contudo que uma subida de 0,5 pontos percentuais na próxima reunião é muito provável.

Portugal acima da média

Este recuo da inflação na zona euro em Dezembro significa que Portugal, apesar de também ter registado duas descidas na variação homóloga dos preços em Novembro e Dezembro do ano passado, continua a apresentar um valor mais alto do que a média da zona euro neste indicador.

A taxa de inflação homóloga harmonizada (o indicador que permite a comparação com o resto da zona euro) em Portugal passou de 10,6% em Outubro para 10,2% em Novembro e 9,8% em Dezembro. Isto significa que, se em Outubro Portugal tinha a mesma inflação homóloga que o total da zona euro e em Novembro ela era ligeiramente superior, agora este indicador em Portugal já é 0,6 pontos percentuais mais elevado do que a média dos 19 países que têm o euro como divisa.

Os países com a taxa de inflação mais elevada continuam a ser, de longe, a Letónia, Lituânia e Estónia, com 20,7%, 20% e 17,5%, respectivamente. No pólo oposto, estão a Espanha, Luxemburgo e França, que apresentaram em Dezembro variações homólogas dos preços de 5,6%, 6,2% e 6,7%, respectivamente.

A dependência económica relativamente à Rússia, o peso dos bens energéticos e as medidas tomadas pelos governos para limitar as subidas de preços são os principais factores explicativos para a grande variedade de taxas de inflação entre países que têm uma política monetária comum.

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