Inflação cai mais do que o previsto na Alemanha

Recuo forte dos preços da energia em Dezembro suaviza o cenário de crise de preços que se tem vivido na maior economia europeia, mas pode ainda não chegar para o BCE mudar de rumo.

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Preços da gasolina estão a descer na Alemanha EPA/FILIP SINGER

Numa altura em que já são dadas como adquiridas novas subidas das taxas de juro do BCE durante os próximos meses, da Alemanha chegam sinais mais positivos do que o previsto relativamente à inflação, aumentando a esperança de que o pior da crise de preços que se está a viver na Europa já pode ter passado.

De acordo com os dados publicados nesta terça-feira pela autoridade estatística alemã, a taxa de inflação homóloga harmonizada na maior economia da zona euro caiu no último mês do ano passado para 9,6%. É a segunda descida consecutiva deste indicador depois dos 11,6% de Outubro (o valor mais alto desde 1996) e dos 11,3% de Novembro.

É também um valor que fica consideravelmente abaixo daquilo que era esperado. De acordo com um inquérito realizado pela Reuters junto de analistas europeus, a inflação esperada para Dezembro na Alemanha era, antes de serem conhecidos os dados oficiais, de 10,7%.

A variação dos preços na Alemanha face ao mês imediatamente anterior foi, em Dezembro, negativa, de 1,2%, quando os analistas previam em média um recuo de 0,5%.

Antes da divulgação dos dados nesta terça-feira, as previsões de um retrocesso na taxa de inflação homóloga alemã em Dezembro assentavam, principalmente, na ideia de que foi nesse mês que os consumidores alemães sentiram, na sua factura energética, o efeito positivo de medidas de auxílio lançadas pelo Governo liderado por Olaf Scholz. No entanto, a descida da inflação acabou por ser mais significativa do que o esperado porque foi ainda mais claro o recuo registado nos preços de vários bens energéticos em Dezembro.

Também em Portugal, onde os dados da inflação de Dezembro foram divulgados na semana passada, se assistiu à segunda descida consecutiva na variação homóloga dos preços, com este indicador a passar de 9,9% para 9,6%.

Uma descida mais forte da inflação na Alemanha e noutros países pode aumentar a esperança de que o pico das subidas de preços já possa ter ficado para trás em toda a Europa. E pode dar argumentos a quem defende que não será necessário ao Banco Central Europeu (BCE) ir muito mais longe do que já foi na subida das taxas de juro para tentar travar as pressões inflacionistas.

É por isso que, nesta terça-feira, logo a seguir a serem conhecidos os dados da inflação na Alemanha, se assistiu a um recuo ligeiro das taxas de juro praticadas no mercado da dívida pública europeia.

Ainda assim, muitos alertam – incluindo responsáveis do BCE – que pode ser cedo demais para declarar vitória contra a inflação. Mesmo os dados agora conhecidos da inflação na Alemanha revelam alguns sinais de preocupação. De facto, os contributos para a descida da inflação em Dezembro vieram essencialmente de um regresso progressivo dos preços da energia a níveis mais próximos aos anteriores à guerra.

Noutros bens e serviços, que inicialmente não estavam a ser um alvo tão claro da alta de preços, assiste-se agora a um agravamento da inflação, o que pode querer dizer que, mesmo com o pior já para trás, o regresso a uma inflação próxima de 2% pode ainda demorar algum tempo.

Outro factor a justificar alguma prudência relativamente à evolução dos preços é o facto de, também no que diz respeito à actividade económica e ao mercado de trabalho, a Alemanha não dar sinais de um arrefecimento que contribua para o recuo da inflação. Também nesta terça-feira ficou a saber-se que o número de desempregados voltou a diminuir em Dezembro, contrariando a expectativa dos analistas de um agravamento desse indicador.

O banco central alemão revelou no início de Dezembro que está à espera de que, depois da inflação média harmonizada de 8,7% registada em 2022, se verifique ainda um valor em torno de 7% em 2023.

Também o BCE está a antecipar uma inflação persistentemente alta na zona euro. E é esse o motivo pelo qual, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de Dezembro do conselho de governadores, a presidente da instituição, Christine Lagarde, deixou claro que o BCE deverá, durante os próximos meses, realizar várias subidas de taxas de juro.

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