Presidente do Peru pressiona Congresso para que antecipe eleições

Pouco mais de metade dos deputados necessários votaram a favor na semana passada, mas esta terça-feira realiza-se nova votação. Presidente pede aos congressistas que “não arranjem pretextos”.

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Funeral de um dos manifestantes que foi morto pela polícia durante os protestos pelo afastamento e prisão do Presidente Pedro Castillo MIGUEL GUTIERREZ/EPA

Quase duas semanas depois da destituição e detenção do ex-Presidente Pedro Castillo, acusado de tentar um golpe de Estado para se manter no poder, a vaga de protestos no Peru começa a dar sinais de abrandamento. Esta segunda-feira reabriu o aeroporto da segunda maior cidade do país, Arequipa, os comboios turísticos para Machu Picchu voltaram a funcionar e o número de estradas bloqueadas desceu de quase duas centenas para cerca de 40. Prevê-se que mais dois aeroportos retomem as suas operações nas próximas horas.

Para conter as manifestações, em que se exige a libertação de Castillo, a dissolução do Congresso e a marcação de eleições presidenciais antecipadas, o Governo peruano decretou estado de emergência em todo o país e recolher obrigatório em 15 regiões, mobilizando milhares de agentes da polícia e soldados do Exército.

Nos confrontos entre forças da autoridade e manifestantes morreram até agora 25 pessoas e, segundo a provedoria peruana, algumas foram vítimas de disparos com arma de fogo e de bastonadas. De acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, a polícia está a usar balas reais contra quem protesta, a fazer detenções arbitrárias e a plantar provas nas pessoas detidas.

A polícia, por seu turno, diz ter interceptado centenas de pessoas nos protestos ou a caminho com catanas, sacos cheios de pedras e fisgas. O comandante da divisão contra o terrorismo da Polícia Nacional do Peru, general Óscar Arriola, assegurou em entrevista à estação RPP que nas manifestações têm participado membros destacados de organizações terroristas como o Sendero Luminoso e grupos ligados ao narcotráfico.

A nova Presidente garantiu no domingo que todas as mortes serão investigadas. “O Ministério Público já interveio e está a fazer as investigações pertinentes. Reuni-me com o chefe do comando das Forças Armadas, com quem conversei para que se possa investigar no âmbito militar”, disse Dina Boluarte na primeira entrevista televisiva do mandato.

Antecipar eleições?

Em directo na América TV, a governante que foi chamada pelo Congresso a assumir o cargo de Castillo anunciou a demissão do primeiro-ministro que nomeara há apenas uma semana, Pedro Angulo, criticado pela forma como geriu a resposta policial às manifestações e que ainda não tinha recebido o voto de confiança do Congresso.

A decisão de Boluarte segue-se a uma jornada de debate, na sexta-feira, em que os deputados do Congresso recusaram a antecipação das eleições para Dezembro de 2023, como defende a Presidente. Uns consideram que deviam ser ainda mais cedo, já na Primavera, mas outros defendem que a legislatura deve prosseguir até ao fim, em 2026.

Na sexta-feira, a antecipação das eleições obteve apenas 49 votos a favor, a maioria dos quais do partido Força Popular, de Keiko Fujimori. Eram necessários 87 para que a intenção avançasse. Para esta terça-feira está prevista uma nova votação e desta vez são necessários 66 votos. Boluarte pediu aos deputados que "não procurem pretextos para não antecipar as eleições" e "actuem de acordo com o que a população está a exigir".

Uma sondagem do grupo Ipsos para a América TV, difundida a propósito da entrevista de Dina Boluarte, revelou que 85% dos peruanos inquiridos defende a realização de eleições antecipadas. Mas desses, 62% pede que antes da ida às urnas se faça “uma reforma política e eleitoral”. A dissolução do Congresso proposta por Pedro Castillo foi mal vista por 63% das pessoas entrevistadas.

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