Protestos no Peru continuam e número de mortes aproxima-se dos 20

Ex-Presidente Pedro Castillo vai estar detido preventivamente até Junho de 2024 e pode ser condenado a uma pena de 10 anos de prisão. Ministério Público abriu nova investigação contra ele.

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Manifestantes acusam a polícia de ter lançado gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas ALDAIR MEJIA/EPA

A onda de protestos que se tem registado em várias cidades do Peru desde a destituição e detenção do ex-Presidente, na semana passada, provocou até agora cerca de 20 mortos. Não é possível adiantar um número concreto, uma vez que diferentes autoridades reportam números diferentes.

Os últimos balanços foram feitos ao fim da noite de quinta-feira (madrugada em Portugal), já depois de ter sido decretada a prisão preventiva para Pedro Castillo por um período de 18 meses. O antigo Presidente é acusado de rebelião e conspiração por ter anunciado a dissolução do Congresso horas antes de este votar o seu terceiro impeachment em ano e meio. Castillo pretendia liderar um “Governo de excepção”, que administraria o país por decretos-lei, e convocar eleições legislativas para uma nova assembleia com poderes de alterar a Constituição.

O golpe acabou por falhar, uma vez que nem as Forças Armadas nem ministros e deputados do partido que o apoiou deram respaldo às suas decisões, e Castillo enfrenta agora a possibilidade de ser condenado a mais de dez anos de prisão.

Mas esta é apenas uma das várias investigações que sobre ele pendem: o Ministério Público anunciou na quinta-feira a abertura de um inquérito para averiguar alegados subornos de uma empresária a membros do seu Governo, alegadamente a seu pedido. É a oitava investigação em curso contra Pedro Castillo, que tem o seu nome envolvido em vários casos de alegada corrupção e é ainda acusado de ter plagiado grande parte da sua tese de doutoramento.

Para já, o antigo governante vai estar detido preventivamente até Junho de 2024. O advogado oficioso que o representou na sessão de quinta-feira anunciou que vai recorrer da decisão judicial. O antigo primeiro-ministro Aníbal Torres, que se manteve com Castillo até ao fim, ficará em liberdade, mas não pode sair de Lima e tem de se apresentar regularmente às autoridades.

No centro da capital peruana, onde se localizam o palácio presidencial e o Congresso, registaram-se na quinta-feira protestos que descambaram em violência. Os manifestantes estão contra a tomada de posse da nova Presidente, Dina Boluarte, exigem a libertação imediata de Pedro Castillo e a convocação de novas eleições. Apelidam o Congresso de “golpista”.

A Coordenadora Nacional de Direitos Humanos, uma organização que congrega outras organizações, acusou a polícia de usar gás lacrimogéneo contra as pessoas que protestavam, de fazer detenções arbitrárias, de agredir os detidos e de não lhes garantir o acesso a um advogado. A polícia, por sua vez, pede aos cidadãos que se abstenham de participar em concentrações nas quais, denuncia, são feitos apelos ao homicídio de agentes.

Depois de decretar o estado de emergência por 30 dias em todo o território nacional, o Governo decidiu também impor recolher obrigatório em 15 províncias, incluindo nas importantes cidades de Arequipa e Cuzco – onde se encontram portugueses retidos.

Ao início da noite, o Ministério da Saúde confirmou no Twitter que tinham morrido 14 pessoas a nível nacional em resultado das manifestações da última semana, mas a direcção regional de Saúde de Ayacucho, a meio caminho entre Lima e Cuzco, actualizou o seu balanço em comunicado, afirmando que só naquela região tinham morrido sete pessoas. Ao fim da noite, a provedoria peruana reportou a morte de 15 pessoas nos protestos propriamente ditos e de mais seis em acidentes de viação relacionados com o bloqueio de estradas que se verifica em vários pontos do país. Há ainda pelo menos 210 feridos entre a população e 216 entre as forças de segurança.

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