Exército ucraniano já entrou em Kherson

Ministério da Defesa russo afirma ter completado a operação de retirada apenas dois dias depois de ter sido anunciada. Soldados ucranianos foram recebidos em festa no centro da cidade.

População ucraniana celebra nas ruas de Kherson depois da retirada russa Imagem: Reuters. Edição: Joana Bourgard

O Ministério da Defesa da Ucrânia confirmou ao início da tarde que o seu Exército entrou esta sexta-feira de manhã em Kherson, depois de as redes sociais se terem inundado de fotografias e vídeos que mostravam soldados a percorrer as ruas da cidade e a serem recebidos pela população local em clima de festa. “Kherson regressa ao controlo da Ucrânia, as unidades das Forças Armadas ucranianas entraram na cidade”, diz um comunicado divulgado no Telegram.

Na Praça da Liberdade, no centro da cidade que esteve até agora sob controlo militar russo, reuniu-se uma pequena multidão com bandeiras ucranianas para receber a tropa.

Um assessor do Ministério da Defesa ucraniano, Iurii Sak, disse à BBC que os soldados de Kiev “controlam quase totalmente” a cidade, mas advertiu que ainda há soldados russos em Kherson, vestidos com roupas à civil. “Os vossos chefes disseram-vos para mudar para roupas civis e para fugirem pelos vossos próprios meios. É evidente que não conseguirão fazê-lo. Todos os militares russos que mostrem resistência serão eliminados. Vocês só têm uma hipótese de evitar a morte: rendam-se imediatamente”, diz o comunicado do ministério, dirigindo-se directamente aos soldados da tropa invasora.

O Ministério da Defesa da Rússia tinha anunciado de manhã que todos os seus soldados atravessaram o rio Dnieper, abandonando de vez a única capital regional que tinham conquistado desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro. “Às 5h de Moscovo [2h em Lisboa], a recolocação das unidades russas na margem esquerda do Dnieper ficou completa. Durante a recolocação, nem uma peça de material militar ou de armamento foi deixada para trás. Todo o pessoal russo fez a travessia, não houve perdas de homens ou materiais das forças russas”, dizia o comunicado, citado pela agência noticiosa Tass.

​A retirada de Kherson vinha sendo preparada há semanas pela tropa russa, que deslocou material militar para a zona Sul da região e começou aí a construir e a alargar trincheiras. No entanto, só na quarta-feira é que o Ministério da Defesa oficializou a decisão perante a sua opinião pública e o resto do mundo, através de um anúncio feito pelo comandante das forças russas na Ucrânia, Serguei Surovikin, ao ministro da Defesa, Serguei Shoigu. O Presidente, Vladimir Putin, não participou nessa conversa e ainda não se pronunciou publicamente.

Na habitual conferência de imprensa no Kremlin, esta manhã, o porta-voz de Vladimir Putin recusou a ideia de que a retirada de Kherson seja “uma humilhação” para o Presidente russo e tentou chutar toda a responsabilidade pela manobra para Shoigu. “Não tenho nada a acrescentar, nada a dizer sobre este assunto. Peço-vos que se dirijam ao Ministério da Defesa para obter mais comentários”, disse Dmitri Peskov. Ainda assim, acrescentou que a saída dos militares não põe em causa a anexação (ilegal) da região pela Rússia.

No Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia congratulou-se com a “nova importante vitória” para o seu país, partilhando um vídeo em que se vêem residentes de Kherson a rasgar um cartaz que prometia que a Rússia estaria ali “para sempre”. Comentou Dmitro Kuleba: “Bom, nem por isso! A Ucrânia está a ganhar uma nova importante vitória e prova que, independentemente do que a Rússia diga ou faça, a Ucrânia vai ganhar.”

O anúncio do fim da retirada russa surgiu poucas horas depois de fontes ucranianas terem afirmado que a ponte Antonovskii, que liga ambas as margens, colapsou durante a madrugada. Segundo a BBC, residentes de Kherson relatam ter ouvido explosões por volta das 5h locais (3h em Lisboa) e nas redes sociais estão a correr vídeos de soldados russos a atravessar o rio com recurso a um pontão. A ponte rodoviária Antonovskii (existe outra ferroviária com o mesmo nome) foi atacada diversas vezes pelos ucranianos nos últimos meses para dificultar o reabastecimento à tropa russa.

Apesar da importância simbólica da reconquista de Kherson pelos ucranianos -- foi a primeira e única capital regional a cair nas mãos russas, ainda para mais em circunstâncias que levantam suspeitas de colaboracionismo local -- a Rússia ainda controla uma parte significativa da região (cerca de 60%), incluindo a costa no mar de Azov e o canal que fornece quase toda a água doce à Crimeia.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários