Family Film Project: um festival para problematizar a inundação de imagens com que vivemos no dia-a-dia

A 11.ª edição do festival decorre entre esta terça-feira e sábado em quatro espaços da cidade do Porto. Catarina Alves Costa é a realizadora em foco.

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"Heróis do Mar" (1949), de Fernando Garcia, recupera uma obra esquecida sobre a saga portuguesa da pesca do bacalhau dr
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Catarina Alves Costa DR
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My Mexican Bretzel, de Nuria Giménez DR

A revisitação de parte da filmografia da cineasta e antropóloga Catarina Alves Costa (Porto, 1967); a chegada ao Porto do cine-concerto com a versão restaurada do filme Heróis do Mar (1949), de Fernando Garcia; e as presenças, como artistas convidados, da realizadora espanhola Nuria Giménez, autora de My Mexican Bretzel, e do americano Peter Freund, com o seu “cinema retraído”, fazem os destaques da 11.ª edição do Family Film Project (FFP), festival que decorre entre esta terça-feira e sábado em quatro espaços da cidade do Porto: Coliseu, Passos Manuel, Cinema Trindade e Maus Hábitos.

Permanecendo fiel ao projecto inicial de “problematizar a inundação de imagens com que agora vivemos no dia-a-dia”, diz ao PÚBLICO Né Barros, a programadora, coreógrafa e bailarina que com Filipe Martins partilha a direcção do festival, o FFP terá, como habitualmente, uma secção competitiva no centro do programa. Este ano, distribuídos pelas secções temáticas Vidas e lugares, Memória e arquivo, e acolhendo ficção e animação, conta com 21 filmes provenientes de 15 países. No conjunto, estas obras “oferecem novas abordagens, novas histórias mais ou menos íntimas, familiares, vindas de outras culturas”, sintetiza Né Barros.

Nesta selecção, há cinco títulos portugueses: Passagem, de Tânia Dinis; Ours Is the Wasteland, de Mário Veloso; Cinema Pobre, de Regina Guimarães; Madrugada, de Leonor Noivo; e a animação Garrano, de Vasco Sá e David Doutel.

Da já extensa filmografia da Catarina Alves Costa, o FFP seleccionou quatro títulos da primeira fase da sua produção – Regresso à Terra (1992), Senhora Aparecida (1994); A Seda É um Mistério (2003) e O Arquitecto e a Cidade Velha (2004) –, reunindo-os sob o mote Encantamento, exploração e descoberta: processos de filmar no cruzamento da arte com a antropologia. “No trabalho da realizadora-antropóloga, interessou-nos ir buscar filmes que se cruzassem com a linha de toque do festival”, justifica a directora.

Além dos filmes, o foco em Catarina Alves Costa incluirá uma masterclass (dia 21) e uma conversa (dia 22) com esta “mulher da câmara de filmar”, moderada por Humberto Martins.

A atenção ao cinema português estará ainda patente no festival, logo na jornada de abertura, esta terça-feira (Coliseu, 19h30), com o cine-concerto Heróis do Mar (1949), de Fernando Garcia, que recupera uma obra esquecida sobre a saga portuguesa da pesca do bacalhau, a partir de Ílhavo.

Estreado em 1949, depois de uma produção ambiciosa e demorada, a longa-metragem de Fernando Garcia conta no elenco com figuras como Virgílio Teixeira e António Silva, além da jovem Isabel de Castro. Tendo-se perdido a banda sonora, o filme foi entretanto restaurado numa parceria da Cinemateca Portuguesa com a Câmara Municipal de Ílhavo, e já exibido em diferentes palcos. Chega agora ao Porto, musicado pela Orquestra Filarmónica Gafanhense e outros membros desta comunidade de Ílhavo, com uma partitura original de Henrique Portovedo e João Martins.

Retracted cinema

Vinda de fora, estará no Porto, como artista convidada, Nuria Giménez com o seu My Mexican Bretzel (2019), cá estreado no Porto/Post/Doc 2020. Virá também dirigir uma masterclass (dia 20) sobre esse seu filme “assente sobre uma memória muito ficcionada, com um trabalho sonoro muito forte, e que tem tido uma circulação bem recebida por imensos festivais”, assinala Né Barros.

O outro convidado de além-fronteiras é o americano Peter Freund, artista e curador radicado em Barcelona, que vem igualmente fazer uma masterclass sobre “retracted cinema”, uma nova visão do cinema como “retracção” artística, “cinema que utiliza restrições algorítmicas para ‘dobrar’ imagens de arquivo ou found-footage sobre si próprias, como um origami conceptual”, diz o programa do FFP.

Além da masterclass, Peter Freund traz uma mostra de cinema experimental, e integra ainda o júri da competição do festival, ao lado dos portugueses Nelson Araújo, ensaísta, professor e director da licenciatura de Cinema e Audiovisual na Escola Superior Artística do Porto (ESAP), e Susana Nascimento Duarte, professora de cinema e vídeo na ESAD do Instituto Politécnico de Leiria.

A agenda do 11.º Family Film Project completa-se com um ciclo de performances, já esta terça-feira, no espaço Maus Hábitos, genericamente intitulada Private Collection. Conta com actuações de Sérgio Leitão (Viburno – O caminho estreito para o interior profundo); Paulo Pinto (Palha encantada: alegoria de um espírito esquecido; 21h); Bibi Dória (Copacabana mon amour, 21h30); e Ece Canli (Oubliette, 22h).

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