Os resultados eleitorais, o sectarismo, o radicalismo verbalista de fachada comunista

Ao contrário do que afirmava Cunhal, a influência social do PCP é muito inferior à eleitoral, apesar de esta vir a diminuir. A direção do PCP cavou um fosso dentro do próprio partido entre os seus ativistas mais interessados na progressão do partido do que nos lugares que ocupavam ou ocupam.

O que parecia improvável aconteceu. A manobra convergente de Marcelo e Costa resultou em pleno para o primeiro e deixou o segundo com a página mais que virada, sem possibilidade de lá escrever o que quer que seja a não ser “maioria absoluta”.

O que fez ressuscitar a maioria absoluta? A irresponsabilidade do PCP e do BE e a manobra tática de Costa.

O PS apoiou-se na esquerda para governar. Ganhou apoio popular num país claramente situado ao centro-esquerda. Cavou no centro e na esquerda. Reforçou a sua base eleitoral. Sentiu-se mais forte. Quis reposicionar-se; não queria os constrangimentos que o PCP e BE lhe colocavam. Apresentou o orçamento com a espada de Dâmocles, ou votam ou vamos para eleições. Marcelo esfregava as mãos.

Os resultados revelam que a manobra não foi compreendida em toda a sua extensão pelo PCP e BE que caíram na esparrela de não deixar passar o orçamento (o PCP para eventualmente competir com o BE); deixaram-se responsabilizar pelo chumbo que impedia algumas melhorias em áreas sociais; nunca explicaram porque havia contradição entre deixar passar o orçamento e continuar a lutar por outros avanços nos salários, no SNS, nas pensões e na escola pública. Comportaram-se como anjinhos no céu socialista de Costa.

O descalabro dos partidos à esquerda do PS foi geral. Pagaram o preço de navegarem fora da realidade. Como podem explicar que ao longo de todos estes anos não tenham sido capazes de se encontrar para aumentar a sua força negocial junto do PS e do eleitorado de esquerda? Só a cegueira explica esta competição sectária desastrosa.

Como pode o PCP atribuir, como sempre, as culpas a outros e não assumir qualquer espécie de erro? Veio Jerónimo gasto e desgastado culpar a bipolarização e é caso para perguntar se então não sabiam que, chumbando o orçamento, o que ia acontecer era a bipolarização agravada pelo facto do PS ter no orçamento o aumento do salário mínimo, das pensões e a mudança nos escalões do IRS, que eram bandeiras do PCP? Se não sabiam, é porque são incapazes de ler a realidade. O modo de fazer notar a diferença existente não passava por andar a provocar eleições ou, dito de outro modo, se as não queriam não fossem jogar no campo de quem as engendrou. PCP e BE declararam tonitruantes que estavam preparados e não estavam, como se está a ver.

Em Évora a bipolarização que existia entre PCP e PS passou a ser entre PS e PSD. E o que explica a dramática derrota em Santarém, para lá da de Évora? O mundo está a mover-se sob o nosso olhar e a direção do PCP está sem olhos que vejam; fala para sociedade imaginária que existe nos livros dos clássicos que leu (?) sem os saber aplicar às realidades de hoje.

O PCP vai perdendo a pouco e pouco a sua influência eleitoral de um modo que parece irreversível. Ao contrário do que afirmava Cunhal, a influência social é muito inferior à eleitoral, apesar de esta vir a diminuir. A direção do PCP cavou um fosso dentro do próprio partido entre os seus ativistas mais interessados na progressão do partido do que nos lugares que ocupavam ou ocupam. A direção sabe que precisa deste tipo de radicalismo verbalista sem qualquer correspondência prática para justificar a sua incapacidade. Vem substituindo essas perdas de influência por um discurso verbalista/radicalista de fachada comunista.

A direção de Jerónimo para tentar iludir a sua fraqueza declarou do alto do 6.º andar da Soeiro Pereira Gomes que não assinava acordos com o PS e passou esta mensagem sem qualquer substância para um partido exaurido de quadros, corridos, desprezados, marginalizados perdendo assim as raízes que um dia teve.

A não haver um sobressalto dentro do partido, o destino está escrito nas estrelas.

Por último, o país uma vez mais pronunciou-se que quer o SNS tal como foi adotado, a Segurança Social e a escola pública sem a invasão do liberalismo, salários mínimos decentes e novos escalões do IRS. Por isso votou como votou e mandou Rio para a sua inutilidade superveniente.

A direita reconfigurou-se. O CDS descansa em paz. O Chega está no sistema contra o sistema. Vamos ver como passa a ser sem ser o André. A IL vai preenchendo espaços deixados pelo CDS e certas camadas do PSD. A direita ficou minoritária uma vez mais. A vida continua.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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