Após o tsunami, um tonganês sobreviveu mais de 24 horas no mar. Agora é conhecido por Aquaman

Quando foi arrastado, Lisala Folau ouviu a voz do filho em terra a chamar por si, mas não respondeu. “Se eu lhe respondesse, ele viria e ambos sofreríamos.”

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Folau confessou que, durante o tempo no mar, dois pensamentos nunca o abandonaram: a sua crença em Deus e a sua família DR\Facebook

Lisala Folau é tonganês, tem 57 anos e, devido a uma deficiência, mal consegue andar. Agora, passou a ser também um herói local, depois de ter sobrevivido mais de 24 horas no mar, após o tsunami que atingiu o reino polinésio —​ feito que pôs muita gente a dizer que é um “Aquaman da vida real”.

Mas o acto heróico de Lisala consegue ser ainda maior por ter conseguido evitar que o filho enfrentasse o perigo para o salvar. É que, quando as águas o levaram, ainda conseguiu ouvir o filho a chamar por si, mas não respondeu. “O meu pensamento era que se eu lhe respondesse, ele viria e ambos sofreríamos, por isso, flutuei, fustigado pelas grandes ondas que continuavam a vir”, explicou o homem, numa entrevista à Broadcom FM de Tonga, cujos excertos foram traduzidos e partilhados no Facebook.

A erupção do vulcão submerso Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, na última sexta-feira, provocou um tsunami e uma onda de choque atmosférica, danificando aldeias e resorts e deixando os mais de 105 mil habitantes das ilhas isolados, sem comunicações. Para já, no arquipélago, há três vítimas mortais confirmadas, mas as autoridades temem que o número ainda suba, quando todas as comunicações forem restauradas.

Folau poderia ter sido uma das vítimas. O homem, um carpinteiro reformado por invalidez que reside na ilha de Atata, com uma população de cerca de 60 pessoas, foi levado por uma onda, no sábado, por volta das 19h locais (6h, em Lisboa). Lisala Aquaman Folau tinha subido a uma árvore para escapar a uma primeira vaga, mas quando desceu, foi apanhado desprevenido por uma outra grande onda que o arrastou.

O tonganês recordou ter sido puxado para debaixo de água umas nove vezes. “Da oitava vez, pensei, da próxima que submergir não escapo, porque os meus braços eram as únicas coisas que me mantinham à superfície.” Mas, nessa nona vez, relata a Reuters, conseguiu recuperar e, ao regressar à tona, encontrou um tronco ao qual se agarrou com todas as suas forças.

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Folau contou a sua história à Broadcom FM Marian Kupu/Broadcom Broadcasting FM87.5 via REUTERS

“Foi isso que me fez continuar”, lembrou, acrescentando que de certa forma se sentia resignado com o que o destino lhe reservava: “As ondas continuavam a girar por aqui e por ali... O que me veio à mente é que no mar há vida e morte. Até chegar à costa, só então se sabe se se está vivo ou morto.” No entanto, algo não saía da sua mente, como explicou à Broadcom FM: “Se eu conseguir agarrar-me a uma árvore ou a qualquer coisa e se algo acontecer e eu perder a minha vida, as equipas de resgate podem encontrar-me e a minha família pode ver o meu cadáver.” Mas, confessa, num vídeo partilhado pela Sky News, que dois pensamentos nunca o abandonaram: a sua crença em Deus e a sua família.

Agarrado ao tronco, Folau conseguiu percorrer cerca de 4,7 milhas (cerca de 7,5 quilómetros terrestres) até à ilha principal de Tongatapu. Depois de domingo amanhecer, viu o barco patrulha da polícia a dirigir-se para a ilha Atata. “Acenei, mas o barco não me viu.” Mas aquele momento serviu para recuperar a esperança. “Eu tinha agora a certeza de poder chegar a Mui'i Sopu (extremo ocidental de Nucualofa), e sabia que a minha família estava muito preocupada. Pensei na minha irmã em Hofoa, que sofre de diabetes, e na minha filha mais velha, que tem problemas cardíacos. Isto levou-me a chegar a Sopu.” De acordo com o ex-carpinteiro, seriam umas nove da noite, ou seja, 26 horas depois de ter sido arrastado pela onda.

Porém, a odisseia ainda não tinha terminado. Lisala recordou ter rastejado até à estrada, onde encontrou um “pedaço de madeira que serviu como bengala”. Tentou pedir ajuda nas docas, mas não havia ninguém. “Continuei a andar e encontrei um veículo e pedi ajuda.” Estava por fim a salvo.

A história depressa se tornou viral nas redes, onde Folau conquistou a alcunha de Aquaman. Uma figura que ele tratará de descobrir, já que confessou não conhecer o personagem da DC Comics com direito a filme próprio.

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