“Não me parece que Costa possa reconstruir as pontes que se destruiram”

Paulo Pedroso culpa o Governo pelo chumbo do Orçamento e admite que PS possa vir a perder as eleições

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Rui Gaudencio

O ex-ministro socialista tem dúvidas que a geringonça possa ser repetida com António Costa, a quem atribui as principais responsabilidades pela deserção do apoio do PCP e do Bloco de Esquerda. “Não me parece que António Costa possa reconstruir as pontes que se destruíram agora”, afirmou Paulo Pedroso ao programa “Interesse Público”, que pode ser visto no site do PÚBLICO. “A convicção” do ex-dirigente do PS “é que António Costa deixou de ser a pessoa que está em melhores condições no PS para liderar um novo fôlego de entendimento à esquerda e para esse efeito tornou-se um problema quando até agora tinha sido sempre solução em todas as frentes políticas do PS”. 

Questionado sobre se está a defender a substituição de António Costa por Pedro Nuno Santos com o objectivo de prosseguir os entendimentos à esquerda, Pedroso afirma que “Pedro Nuno Santos pode ter outros problemas que não esse”, o de relacionamento com Bloco de Esquerda e PCP. “Parece-me claro que Pedro Nuno Santos manteve intacto o seu capital de relacionamento com os partidos à esquerda. O que não quer dizer que não haja outras pessoas que também o possam fazer”, diz Paulo Pedroso considerando, no entanto, que para já “a questão está ultrapassada” a partir do momento em que no debate do Orçamento, em resposta a um deputado do PSD, António Costa disse que era ele quem se apresentava às próximas eleições em nome do Partido Socialista.

O ex-ministro considera que o chumbo do Orçamento, ao fim de seis anos em que Bloco de Esquerda e PCP viabilizaram orçamentos, aconteceu porque estes partidos se aperceberam que “não tinham poder de influência na agenda política real”. De 2019 para cá, desde que deixaram de existir os acordos escritos, “havia um período de geringonça em cada orçamento, com uma negociação orçamental em que os partidos à esquerda — em particular o PCP — permitiam que certas medidas que o PS também queria fossem feitas mais depressa... mas sem sair da agenda do PS”. Enquanto isso, “no resto do ano, até no Parlamento, o PS governava com a sua agenda própria”. Mais tarde ou mais cedo, diz Pedroso, a situação iria gerar cansaço.

Paulo Pedroso não está certo que o PS venha a ganhar as próximas eleições, até porque a história mostra que, a seguir a uma dissolução da Assembleia da República, os eleitores escolheram uma nova composição parlamentar. No entanto, aconselha as pessoas que podem influenciar António Costa — cita Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes, Alexandra Leitão, Mariana Vieira da Silva — a aconselhá-lo a “não fazer o discurso que estamos a ver em Carlos César ou em Augusto Santos Silva, um discurso de radicalização de um conflito com os antigos parceiros”, mas “a procurar reconstruir as pontes desde já”. Se é António Costa que “desencadeia as energias que levam à geringonça”, Paulo Pedroso conclui também que é “um bloqueio de António Costa que põe a geringonça em coma, para não dizer que já morreu”. 

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