Entre o caos e a espera de uma posição comum, vários Estados retiram os seus cidadãos de Cabul

Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha puseram em marcha a retirada dos seus cidadãos do Afeganistão sem para já definirem posições sobre “a vitória dos taliban” repudiada pelo ex-chefe do Exército britânico

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Enquanto a situação relatada de Cabul se mostrava susceptível de se agravar ainda mais a qualquer momento, os Estados Unidos e o Reino Unido apressaram-se a anunciar este domingo o envio de contingentes militares para garantir a retirada em segurança da maioria do seu pessoal diplomático. Também a Alemanha e França, entre outros, davam ordem para aviões militares se dirigirem durante a noite para a região de modo a trazer os seus cidadãos nesta segunda-feira, dia em que são esperadas tomadas de posição mais abrangentes por parte da comunidade internacional.

As reacções à tomada do poder pelos taliban em Cabul ficaram-se pelo apelo à sintonia entre diferentes Estados lançado pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson. “Não queremos ninguém a reconhecer bilateralmente os taliban [enquanto autoridade do Afeganistão]”, afirmou. “Queremos uma posição tão unida quanto possível entre todos os que partilhem a nossa posição.”

Sem ilusões, Peter Beaumont no jornal britânico The Guardian escreveu que a ideia de uma tomada de posição dura por parte da comunidade internacional poder travar os taliban nos seus desígnios “só pode ser recebida com cepticismo”.

Ainda segundo a análise deste repórter veterano, “tudo indica por agora que é no interesse dos taliban permitir a evacuação das embaixadas e deixar as preocupações dos países ocidentais relativamente inalteradas”.

Mas lembrou: ainda há cinco semanas, o primeiro ministro Boris Johnson afirmava confiante à Câmara dos Comuns que no contexto militar não haveria qualquer margem para uma vitória dos taliban; e notou a forma repentina como o chefe do Executivo britânico foi obrigado a rever as suas prioridades, colocando agora como objectivo estratégico ‘número um’ a garantia de que o Afeganistão não volte a ser o Estado terrorista que foi no período que levou aos atentados do 11 de Setembro de 2001.

Repúdio dos ex-combatentes 

Já o general que chefiou o Exército britânico de 2009 a 2010, depois de ter liderado as tropas internacionais no sul do Afeganistão em 2006 e 2007, não poupou nas palavras para declarar claramente “a vitória dos taliban”. Sir David Richard deixou claro o seu repúdio com os acontecimentos mais recentes no país. Nas declarações que fez à Sky News, disse ser esse um sentimento partilhado pelos militares que aí combateram.

Enquanto isso, Washington e Londres apressaram-se a garantir que a saída dos seus efectivos diplomáticos e outros funcionários de Cabul não significava que na capital afegã não permaneceriam no país os seus embaixadores, diplomatas e funcionários. Não seria um abandono total, como deram a entender, já que estes últimos seriam necessários para garantir a saída sem sobressaltos dos seus nacionais e cidadãos afegãos que com eles tenham colaborado.

A retirada dos civis já estava prevista – embora sem data – desde a semana passada quando o rápido avanço dos taliban rumo à capital do Afeganistão levaram Washington e Londres a prepararem-se para a retirada urgente dos seus cidadãos e de milhares de afegãos sem contudo mencionar prazos.

Também a Holanda e a Suécia disseram estar a preparar a saída dos seus diplomatas, refere a agência Reuters. E já no final do dia, a agência de notícias saudita escrevia que a representação diplomática da Arábia Saudita em Cabul estava a ser evacuada. 

Estão previstas reuniões extraordinárias do Conselho de Segurança das Nações em Nova Iorque e da NATO para esta segunda-feira, o mesmo dia em que o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, presidirá ao Conselho da Defesa antes de fazer as suas primeiras declarações sobre a situação.

Levados de helicóptero

A embaixada dos Estados Unidos foi deslocada para a zona do aeroporto e o mesmo fez a França, como anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês. Os diplomatas norte-americanos e outro pessoal da embaixada foram levados de helicóptero para o aeroporto onde as tropas norte-americanas estão presentes para garantir a segurança.

“Estamos a trabalhar no sentido de garantir que o nosso pessoal está salvo e em segurança. Estamos a transferir os homens e as mulheres da nossa embaixada para um local junto ao aeroporto”, disse à ABC News o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken. À CNN notou que apesar do investimento dos Estados Unidos nas forças afegãs estas tinham sido incapazes de contrariar o avanço dos taliban. “E isso aconteceu mais rapidamente do que nós esperávamos”, admitiu.

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