Covid-19: Índia regista 200 mil novos casos nas últimas 24 horas e tem os hospitais no limite

O último confinamento no país eliminou milhões de empregos e potenciou um fluxo de deslocações para as zonas rurais, causando muitas mortes e contágios no caminho.

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Em Nova Deli, as pessoas esperam em fila para serem testadas, na semana em que a Índia apresentou valores recorde de infecções RAJAT GUPTA/EPA

Nos últimos sete dias, a segunda vaga de infecções na Índia tem superado os recordes de novos casos. Só nas últimas 24 horas foram confirmados mais de 200 mil casos de covid-19, e algumas cidades anunciaram novos confinamentos. O total de infecções do país apenas é superado pelos EUA, e o total de mortes surge em quarto lugar no ranking mundial, atrás dos EUA, Brasil e México.

A situação sanitária reflecte-se em vários hospitais do país, que já acusam falta de oxigénio e de camas. “No ano passado, não assistimos a uma situação tão grave. Desta vez, os números são muito altos e estão a aumentar muito rapidamente, a situação é alarmante”, disse o director médico Suresh Kumar, do hospital Lok Nayak Jai Prakash Narayan, em Nova Deli.

No mesmo hospital, um dos maiores que recebem pacientes positivos, testemunhas ouvidas pela Reuters avistaram alguns pacientes a partilhar camas nalgumas alas. Em Ahmedabad, as ambulâncias fazem fila de espera.

Também a produção de oxigénio do país tem atingido a capacidade máxima nos últimos dois dias, sem, no entanto, ser suficiente. A Índia terá de recorrer às importações, plano que o Ministro da Saúde já anunciou para importar 50 mil toneladas métricas de oxigénio.

“Se estas condições persistirem, o número de mortes vai continuar a aumentar”, alerta o chefe de um conselho médico da cidade de Ahmedabad, citado pela Reuters.

Aliás, o número de mortes tem-se reflectido nos crematórios e cemitérios das zonas mais afectadas e no crescente pedido de funerais, dizem os media indianos.

Os culpados, para os especialistas, tanto são a complacência do Governo como as novas variantes. Segundo o virologista Shahid Jamil, referido na Associated Press, as festividades religiosas e actividades políticas também potenciaram o contágio. Ainda na quarta-feira, centenas de milhares de pessoas festejaram o festival Hingu perto do rio Ganges. Já o Governo critica o incumprimento da distância social. 

Quanto à vacinação, está a decorrer num ritmo oposto: 8% da população foi inoculada, equivalente a 1,4 mil milhões de pessoas. Só nesta semana é que o Governo indiano autorizou a importação de vacinas para acelerar o processo, nomeadamente a vacina russa Sputnik V.

Confinamento à vista

As autoridades indianas ainda não implementaram um novo confinamento geral, essencialmente devido às consequências do último: além de eliminar milhões de empregos, motivou um dos maiores fluxos de migrantes no subcontinente indiano das cidades para as zonas rurais, causando muitas mortes e contágios no caminho.

Mas algumas cidades têm implementado medidas para começar a abrandar o movimento, porque não tinham outra escolha, diz o New York Times. 

A cidade de Nova Deli impôs um confinamento para o fim-de-semana, que inclui o encerramento de restaurantes, centros comerciais e ginásios. O anúncio seguiu-se ao confinamento da capital financeira do país, Bombaim, no estado de Maharashtra, que ordenou o encerramento de grande parte dos estabelecimentos e indústrias, e proibiu as deslocações de pessoas durante 15 dias. 

Quando as infecções começaram a abrandar em Setembro do ano passado, muitos esperavam que o pior tivesse passado e as regras de distanciamento e do uso da máscara foram abandonadas, deixando as autoridades desamparadas com o ressurgimento de casos em Fevereiro.

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