Covid-19: ainda se sabe pouco sobre variante com “dupla mutação” identificada na Índia

Com aumento dos casos do novo coronavírus e das mortes em diferentes pontos do gigantesco país, as autoridades de saúde indianas dizem que é cedo para responsabilizar a nova variante.

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Não há provas de que a nova variante afecte a eficácia das vacinas SANJEEV GUPTA/EPA

Uma variante do novo coronavírus com uma “dupla mutação” única, reunindo uma combinação de mutações não identificadas em mais lugar nenhum, foi descoberta na Índia. As autoridades de saúde indianas sublinham que ainda é cedo para saber se esta variante pode ser mais infecciosa, menos sensível às vacinas ou se torna o vírus da covid-19 mais grave. E recusam relacionar esta descoberta com o aumento de casos dos últimos dias.

No mesmo dia em que a Índia ultrapassou os 47 mil casos diários, o maior valor este ano, um consórcio que reúne dez laboratórios nacionais anunciou os resultados da sequenciação do genoma realizada nas amostras mais recentes que foram recolhidas em vários estados do país. A nova “dupla mutação” foi identificada neste processo, que permite fazer o mapa do código genético de um organismo, uma espécie de material de instruções.

Os testes revelaram a presença das duas mutações em simultâneo em pelo menos 200 amostras de vírus do estado ocidental de Maharashtra, assim como em algumas amostras recolhidas em Deli, no Punjab e em Gujarat, escreve o jornal The Hindu.

O receio é que “uma dupla mutação, em áreas-chave da proteína do vírus, aumente o risco e permita que o vírus escape ao sistema imunitário”, explica o virologista Shahid Jameel, director-geral do Wellcome Trust DBT India Alliance, o organismo público que financia a investigação em ciências biomédicas no país, citado pela BBC.

“Embora tenham sido encontradas na Índia ‘variantes preocupantes’ e uma nova variante com dupla mutação, estas não foram detectadas em número suficiente para estabelecer uma relação directa ou explicar o rápido aumento de casos em alguns estados”, diz o Ministério da Saúde indiano.

A última descoberta surge depois de vários peritos terem apelado ao Governo para acelerar os esforços de sequenciação de genoma. “Precisamos de monitorizar constantemente e garantir que nenhuma das ‘variantes preocupantes’ se está a espalhar pela população”, tinha dito Shahid Jameel à BBC no início do mês. “O facto de não estar a acontecer agora não significa que não vá acontecer no futuro. E temos de assegurar que conseguimos dados suficientes cedo.”

As mutações em vírus são muito comuns e fazem parte da sua evolução natural, acontecendo à medida que o vírus faz novas cópias de si mesmo para se espalhar. Na maioria dos casos sem que o seu comportamento seja alterado. Só que algumas mutações, como as identificadas no Reino Unido, África do Sul e Brasil, podem tornar o vírus mais infeccioso ou mortal, alterando o seu padrão de infecção. São as tais “variantes preocupantes”.

A par dos 47 mil casos diários anunciados na quarta-feira, foram registadas 275 mortes: ambos os valores são os maiores deste Novembro. Com um aumento dos casos em várias regiões do gigantesco país de 1,3 mil milhões de habitantes, os especialistas em saúde pública temem que um festival hindu nos últimos dias do mês, o Holi, possa agravar os surtos actuais, apesar de estarem proibidas as celebrações e os ajuntamentos públicos.

Desde o início da pandemia, a Índia registou 11,7 milhões de casos de covid-19 e mais de 160 mil mortes.

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