Presidente da Guiné-Bissau nega envolvimento no espancamento de Aly Silva

Umaro Sissoco Embaló diz ter accionado mecanismos para investigar os autores do ataque e alertado as autoridades para a urgência de acabar com a violência sobre os cidadãos.

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O Presidente da Guiné-Bissau, Embaló, responde à acusação de ter estado por trás do espancamento do jornalista Aly Silva ANTÓNIO AMARAL/LUSA

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, negou qualquer tipo de envolvimento no espancamento do jornalista e bloguista António Aly Silva, que foi sequestrado e espancado na terça-feira, no centro de Bissau, tendo sido abandonado depois nos arredores da cidade.

“Eu, o Presidente da República, acha que vou mandar espancar um cidadão?”, disse aos jornalistas, à margem da inauguração de uma sede política, na quinta-feira, garantindo que a justiça vai procurar e punir os autores do acto. “Lamento o que aconteceu com o Aly, mas ele que vá ver quem o espancou”, continuou.

Embaló referiu ter dado instruções ao ministro do Interior, à Polícia Judiciária e ao Procurador-geral da República para serem accionados mecanismos para investigar os autores dos ataques que têm violentado cidadãos guineenses.

“Nenhum cidadão vai ser espancado daqui para a frente. As pessoas que o fizeram têm que ser apresentadas à justiça”, afirmou Embaló, perguntando aos jornalistas se acham normal que mande espancar alguém.

Em declarações ao PÚBLICO, o jornalista acusou directamente o Presidente de estar por trás do “regime da selva” que se vive actualmente na Guiné-Bissau, em que se pode ser levado em pleno dia do centro da capital por homens armados sem que ninguém faça nada.

O Presidente insistiu na negação das acusações, referindo que Aly Silva “recebe dinheiro para insultar as pessoas” e acrescentando que “quem for insultado pelo Aly que o leve à polícia, ao Ministério Público, agora ninguém tem o direito de o espancar da forma como foi espancado”.

Embaló afirmou que “só na Guiné-Bissau é que um cidadão é espancado, ou termina o seu casamento, e a culpa é endossada ao Presidente da República”, sublinhando que não é uma pessoa violenta.

O Presidente guineense garantiu ainda tem alertado as Forças de Defesa e Segurança para a urgência de acabar com a violência sobre os cidadãos. Foi também anunciada a instalação de câmaras de vigilância na cidade de Bissau para reforçar a segurança.

Aly Silva denunciou que foi agredido sob ordens de “pessoas ligadas ao poder”, associando-as directamente ao Presidente. O caso foi denunciado pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, e têm sido denunciados mais casos de violação dos direitos humanos contra activistas, políticos, deputados e jornalistas e órgãos de comunicação social.

Num comunicado conjunto de várias organizações, são referidos “sistemáticos raptos, ameaças, intimidações e espancamentos que põem em causa a vida, segurança e integridade física dos cidadãos”. O documento alerta ainda a comunidade internacional para o “ambiente de terror e impunidade” que se tem sentido e a “situação periclitante em que o país vive nos últimos tempos, com cíclicas violações dos direitos humanos”.

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