Covid-19: Merkel cede a estados alemães e aceita levantamento progressivo de restrições

Reuniões privadas vão ser autorizadas a partir de 8 de Março, entre duas famílias, na condição de não excederem as cinco pessoas. Livrarias, floristas e escolas de condução vão também poder voltar a abrir portas em todo o país.

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A chanceler alemã, Angela Merkel Omer Messinger/EPA

A chanceler alemã, Angela Merkel, aceitou na quarta-feira à noite um levantamento progressivo das restrições contra a pandemia de covid-19 na Alemanha, cedendo a um descontentamento crescente na opinião e no próprio governo a sete meses das eleições legislativas.

Ao fim de nove horas de negociações difíceis, a chanceler e os dirigentes dos 16 estados federados (‘Lander’, em Alemão) do país chegaram a um acordo sobre o calendário de levantamento parcial das restrições existentes desde o fim do ano.

As restrições existentes já só são apoiadas hoje por um terço dos alemães contra dois terços no início de Janeiro, segundo uma sondagem YouGov publicada esta semana.

“Hoje, podemos falar de esperança”, afirmou Merkel, durante uma conferência de imprensa, estimando que o seu país entrava agora “numa nova fase” da luta contra a pandemia, permitida pela aceleração da vacina.

A chanceler alemã anunciou ainda que a Alemanha vai autorizar a vacina da AstraZeneca aos maiores de 65 anos. O intervalo entre a administração das duas doses vai ser alargado, para permitir a vacinação de mais pessoas.

Incidência tem que baixar mais para restaurantes reabrirem

A vida socioeconómica vai, entretanto, continuar a decorrer lentamente, com a maior parte das restrições a serem prolongadas pelo menos até 28 de Março, para contrariar a subida dos casos e a propagação da variante britânica, que já representa 46% das infecções.

Mas as reuniões privadas vão ser autorizadas a partir de 8 de Março, entre duas famílias, na condição de não excederem as cinco pessoas. Livrarias, floristas e escolas de condução, que já abriram em alguns estados, vão também poder voltar a abrir portas em todo o país.

A chanceler cedeu a propósito da taxa de incidência da covid-19 na população, uma vez que defendia o levantamento de mais restrições apenas quando a incidência baixasse para os 35 casos por 100 mil habitantes. Porém, ficou acordado que, caso a Alemanha chegue ao patamar dos 50 casos por 100 mil habitantes, a partir do final de Março, será possível a reabertura da restauração ao ar livre, bem como dos sectores culturais e desportivos. Acima dos 100 casos, pelo contrário, serão reintroduzidas severas restrições.

Contudo, há ainda algum caminho a percorrer para atingir duravelmente o limiar dos 50, uma vez que a taxa de incidência da covid-19 na Alemanha se fixou na quarta-feira nos 64 casos por 100 mil habitantes, após uma ligeira subida nos últimos dias.

Só uma região, a Turíngia, na ex-RDA, regista uma taxa acima dos 100 casos por cem mil residentes. Por outro lado, apenas duas apresentam uma incidência inferior a 50 num país onde a covid-19 matou cerca de 70 mil pessoas.

Reabertura depende de testagem maciça

A estratégia de reabertura do governo alemão pretende apoiar-se na realização maciça de testes antigénicos. O governo promete assim a colocação à disposição destes testes rápidos para que, até ao início de Abril, toda a população se possa testar regular e gratuitamente.

Todo o pessoal das escolas e creches, bem como os alunos, vão assim poder fazer testes antigénicos gratuitos todas as semanas. As empresas devem também contribuir para o programa e oferecer testes aos seus trabalhadores que se desloquem ao local de trabalho, o que não agradou às organizações patronais.

Descontentamento e críticas ao governo

Numerosas cadeias de supermercados e pequenos comerciantes têm mostrado preocupação com o risco de falência das empresas. Todos os estabelecimentos “não essenciais” estão fechados desde meados de Dezembro.

A sete meses das eleições legislativas, que vão virar a página da era Merkel, os debates sobre a estratégia a seguir assumiram um tom eminentemente político. E o fim do mandato da chanceler arrisca ser prejudicado pela polémica crescente sobre as falhas na gestão da pandemia.

Tanto a oposição, como os social-democratas, parceiros da coligação governamental dirigida por Merkel, não hesitam em desferir os seus golpes.

O vice-chanceler Olaf Scholz, que também é o candidato social-democrata à chefia do governo, não perde uma ocasião para atacar o que considera ser a ineficácia da campanha de vacinação na Alemanha, onde 4,4 milhões de pessoas (5,3% da população) tinham recebido na quarta-feira pelo menos uma dose de uma vacina contra a covid-19.

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