Olaf Scholz vai ser o candidato a chanceler do SPD

O popular ministro das Finanças da Alemanha será o candidato do partido de centro-esquerda.

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Apesar de ser ter perdido as eleições internas do partido, a candidatura de Olof Scholz fez soar os alarmes na CDU e nos Verdes LUSA/MICHELE TANTUSSI

​Olaf Scholz vai ser o candidato a chanceler do Partido Social-Democrata (centro-esquerda) nas próximas eleições na Alemanha  e não um dos dois co-líderes do partido, Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans, que derrotaram Scholz nas eleições para a liderança do SPD.

A notícia, que é uma surpresa, foi avançada pela liderança do SPD e confirmada pelo próprio ministro das Finanças no Twitter.

Scholz ocupa o cargo desde 2018, quando sucedeu ao anterior (muito popular no país) ministro das Finanças Wolfgang Schäuble, que fez do orçamento sem défice uma prioridade absoluta. O social-democrata defendia mais foco no investimento, mas sempre se comprometeu a ter também as contas equilibradas. A crise provocada pela pandemia veio alterar isso e levou a uma mudança de paradigma, da poupança para o investimento — pelo menos para já.​

É um dos ministros mais populares da coligação, e o mais popular entre os do SPD, e o facto de dirigir a resposta à crise económica provocada pela pandemia, com um enorme programa de investimento (a que chamou “bazuca"), dá-lhe uma grande visibilidade.

Como comenta o jornalista da revista Der Spiegel Florian Gathmann, Scholz tem grandes vantagens: experiência executiva na cidade-estado de Hamburgo e no Governo, e é um político “suficientemente conservador e convencional  e também aborrecido”  para “imunizar” o SPD contra campanhas da sua ala esquerda.

Ou seja, para Gathmann, apesar do estado do SPD nas sondagens (apenas 15%, ainda menos do que os 20,5% que foi o seu resultado nas últimas eleições em 2017 e o pior do pós-gerra) e de Scholz ter perdido as eleições internas no partido, a sua candidatura “faz soar alarmes nos Verdes e na CDU”, porque “de entre todas as pessoas, Olaf Scholz é quem se pode tornar chanceler de uma coligação vermelho-vermelho-verde”, ou seja, com os Verdes e Die Linke, o partido de esquerda radical.

Como comentou no Twitter Christian Odendahl, do Center for European Reform, estabilidade e experiência são muitas vezes valorizadas pelo eleitorado alemão. Odendahl lembra que Angela Merkel usou a frase “vocês já me conhecem” como um dos principais argumentos para um voto na CDU, e claro, houve a famosa promessa de Konrad Adenauer não fazer “experiências” em 1957. “Não se deixem enganar pelos 15%”, sublinhou.​

A Alemanha terá eleições provavelmente em Setembro/Outubro de 2021. A União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel ainda vai decidir quem será o seu líder e o seu candidato a chanceler (até agora só há homens na corrida) e apesar de haver um movimento mediático em torno de Markus Söder, chefe do governo da Baviera, este é líder da CSU, o partido gémeo da CDU no estado federado, portanto só seria o escolhido se a nova liderança da CDU o quisesse, o que a maioria dos analistas acha improvável.

O ambiente eleitoral também dependerá muito do que acontecer com a economia (e se a “bazuca”, o programa de investimento do Governo, funciona) e da pandemia (o país começou por estar numa situação bastante favorável com poucas mortes e boa contenção de casos, mas os números de infecção estão a subir e as autoridades de saúde estão preocupadas).

Na última sondagem do instituto Emind, a CDU/CSU continuava a sua recuperação, com 38% (nas últimas eleições teve 32,9%), o SPD tem 15%, os Verdes 18%, o partido de direita radical e nacionalista AfD 11%, A Esquerda (Die Linke) 8% e o Partido Liberal Democrata 6%.

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