Sporting e Benfica em sobressalto no “derby do medo”

João Palhinha, de um lado, e Jorge Jesus, do outro, são duas ausências de peso num derby em que haverá problemas para ultrapassar. “Em tua casa mando eu” é uma ideia com aplicação prática nos últimos oito jogos entre os dois históricos.

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Matheus Nunes, Cervi e Plata em duelo num derby LUSA/MIGUEL A. LOPES

Sporting e Benfica jogam, nesta segunda-feira (21h30, Sport TV), o “derby do medo”. De um lado, os “leões” enfrentam o receio de jogarem sem aquele que é, para muitos, o jogador mais importante da equipa – falamos de João Palhinha. Do outro lado, os “encarnados”, sem Jorge Jesus no banco, terão de superar o medo de, com uma derrota frente ao rival, na jornada 16 da I Liga, ficarem a uns pesados nove pontos da liderança do campeonato. Precisam de vencer, de forma a acenderem uma “luz de presença” na luta pelo título.

Neste sentido, o Sporting entrará em campo com uma arma poderosa para lidar com o seu medo: a revolta. Indignada por João Palhinha ter sido afastado injustamente deste derby, na sequência do quinto cartão amarelo averbado no Bessa, a equipa “leonina” terá aqui o factor mental para unir o plantel em torno dessa revolta.

Este é o plano mental. No plano futebolístico, a ausência de João Palhinha é bem mais complexa e difícil de contornar.

A ausência da “força aérea”

A entrada do médio no 3x4x3 de Rúben Amorim foi, provavelmente, o factor determinante na consolidação da equipa em 2020/21. É certo que Pedro Gonçalves tem feito os golos e que Pedro Porro e João Mário têm dado raça e magia, mas João Palhinha tem sido a âncora que permite que tudo o resto aconteça.

É o recuperador de bolas, o facilitador na primeira fase de construção, o jogador que empurra a equipa para a frente na reacção adiantada à perda da bola, o foco de maior agressividade (no bom sentido) e é ainda o jogador que mais valências dá no jogo aéreo, defensivo e ofensivo, a uma equipa globalmente de baixa estatura.

Importa lembrar, neste domínio, que o Sporting está na segunda metade da tabela portuguesa em eficácia nos duelos aéreos (o Benfica está no top-5), diferença que será mais visível na ausência de Palhinha, um médio que está no top-10 dos jogadores com mais duelos ganhos pelo ar na I Liga.

A provável presença de Matheus Nunes – mais capaz no transporte de bola, mas menos competente no processo defensivo – poderá permitir ao Benfica equilibrar o duelo no meio-campo, à semelhança do que fez frente ao FC Porto.

Parece um cenário mais negro para os “leões”? Nem por isso. O Sporting joga com a confiança de ser líder, com a tranquilidade de não sair ferido por um eventual empate neste jogo e, sobretudo, com a segurança de, descontando Palhinha, ter a equipa praticamente na máxima força. No Benfica, isso é apenas uma utopia.

Os “encarnados”, a viverem um surto de covid-19 no plantel, ainda não sabem se terão Vlachodimos e Everton disponíveis. É certo que Grimaldo, Vertonghen, Gilberto e Diogo Gonçalves já se libertaram do novo coronavírus, mas dificilmente estarão, depois de vários dias de isolamento, em condições físicas ideais.

Ainda no prisma da covid-19 há, acima disto, a baixa de Jorge Jesus. É certo que não é o treinador quem marca os golos, mas a ausência do líder – não só no jogo, como nos últimos treinos – será, por certo, uma limitação a ter em conta.

“Vamos perder no confronto físico”

O Benfica não fez antevisão da partida – optou por não colocar João de Deus, adjunto de Jesus, frente-a-frente com a imprensa –, mas Rúben Amorim sim. E o treinador do Sporting, apresentando-se com a frontalidade e boa disposição habituais, não teve pudor em assumir que a ausência de João Palhinha deixará a equipa refém de valências importantes.

“É um jogador importante e com características específicas, mas iremos lá de outra forma. Sabemos que vamos perder no confronto físico, capacidade de luta e de construir, pelo que os jogadores que jogarem nessa posição vão ter de dividir as funções, o que dará um estilo novo ao jogo”, explicou, em conferência de imprensa.

O técnico “leonino”, que assumiu que tira algumas vantagens de ter sido treinado por Jorge Jesus, aproveitou ainda para analisar o peso deste jogo na luta pelo título. E desvalorizou-o.

“Penso que nada fica decidido amanhã [hoje]. Ainda nem entrámos na segunda volta e faltam muitos jogos. Perder este jogo não tira o Benfica do título nem o entrega ao Sporting”, apontou, acrescentando que espera que os jogadores do Sporting, apesar de liderarem o campeonato, sintam o mesmo nível de pressão para vencer do que os adversários.

“Em tua casa mando eu”

Por fim, um pouco de história. É certo que não é o passado que vence jogos, mas, em matéria estatística, há um detalhe curioso em torno deste jogo. Há quase nove anos que o Sporting não sabe o que é derrotar o Benfica no Estádio de Alvalade em jogos de campeonato.

“Em tua casa mando eu” é uma ideia com aplicação prática nos últimos oito jogos entre Sporting e Benfica na I Liga, com quatro triunfos “encarnados” e quatro empates.

A última vez que o Sporting derrotou o Benfica em Alvalade para o campeonato foi em Abril de 2012. Nesse jogo, um penálti do holandês Ricky van Wolfswinkel, aos 18’, resolveu a partida a favor do Sporting de Ricardo Sá Pinto frente ao Benfica de Jorge Jesus.

Os “sobreviventes” desse Benfica, além de Jesus, são André Almeida e Jardel (nenhum foi utilizado nesse derby), enquanto o Sporting apenas contava com João Mário, ainda que o então jovem médio, de 19 anos, tivesse feito grande parte dessa temporada ainda nos juniores.

Também fora do derby de 2012 ficou, do lado do Benfica, um médio dispensado por Jorge Jesus a meio dessa temporada – e, por isso, já não disponível para ir a Alvalade. Esse jogador chamava-se… Rúben Amorim.

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