Pedro Gonçalves, um craque de impacto imediato

O rapaz de Vidago marcou cinco golos nos seus primeiros seis jogos pelo Sporting e está a ser um dos destaques no grande início de temporada dos “leões”. Tem sido sempre assim por onde passou.

Foto
Pedro Gonçalves já leva cinco golos em seis jogos pelo Sporting LUSA/ANTONIO COTRIM

No início, era o “Potinho”. “Sempre foi de comer bem e era muito pequenino. E a família dizia-lhe para ir com calma, que não crescia e só alargava.” Era assim Pedro Gonçalves, segundo conta Paulo Lopes, presidente do Vidago Futebol Clube, nos tempos em que o agora médio do Sporting era mais um miúdo a jogar à bola no clube da terra. Para as gentes de Vidago, nunca deixou de ser o “Potinho”, mas já não é esse miúdo rechonchudo e comilão. Pedro Gonçalves cresceu (passou a ser “Pote”), fez-se craque e é um dos responsáveis pelo excelente início de campeonato dos “leões”, líderes isolados e invictos da Liga à sexta jornada.

Pedro Gonçalves está a ser um jogador de impacto imediato no Sporting. Depois de um início atribulado em que foi um dos infectados do plantel com covid-19, o jovem de 22 anos fixou-se no ataque móvel a três desenhado por Rúben Amorim e já leva cinco golos em seis jogos - melhor marcador da equipa e segundo melhor do campeonato. Já vai em três jogos seguidos a marcar, com um “bis” em dois deles (Santa Clara e Tondela), e está perto de bater o seu próprio recorde na temporada passada, em que marcou sete golos em 40 partidas no Famalicão.

Sendo ainda cedo para fazer comparações ou encontrar semelhanças de estilo, há qualquer coisa de Bruno Fernandes na forma como chegou ao Sporting e imediatamente se tornou fundamental. E também pela forma como evoluiu na carreira. Ambos foram muito novos rumo a uma aventura no estrangeiro - Bruno Fernandes emigrou aos 18 anos para Itália, Pedro Gonçalves tinha 17 quando foi para o futebol espanhol - e ambos regressaram ao futebol português como semi-desconhecidos - Bruno chegou ao Sporting vindo da Sampdoria sem grande cartel, Pedro aterrou no Famalicão depois de duas épocas nas reservas do Wolverhampton.

Três golos e um chapéu

Transmontano de nascimento e de criação, Pedro António Pereira Gonçalves era o irmão do meio de uma família humilde de Vidago. Ainda miúdo, começou a jogar andebol, mas rapidamente se virou para o futebol e começou no clube da terra “sempre um escalão acima da sua idade”, como recorda ao PÚBLICO Paulo Lopes, presidente do Vidago Futebol Clube, onde a mãe era a roupeira.

Do início no clube da terra, Pedro passou para o vizinho Desportivo de Chaves e, dali, rumou ao Sp. Braga. “Veio treinar à experiência. Apareceu num treino e dei-lhe 15 minutos a jogar”, conta Jaime Lima Leite, um “homem da casa” do Sp. Braga que viria a ser o seu treinador durante cinco anos. “Marcou três golos, um deles um chapelão. No fim do treino, queriam todos saber quem ele era.”

O clube minhoto já não o deixou fugir, mas, sem a estrutura que agora tem (estamos a falar de 2010) para receber os miúdos na sua formação, colocou-o a viver com uma senhora de Braga a quem pagava uma renda para o acolher e dar-lhe pequeno-almoço - almoçava e jantava num restaurante. Com 13 anos e longe da família, que não tinha posses para o ir ver jogar, o jovem Pedro só ia a casa nas festas e passava muitos dos fins-de-semana em casa dos pais dos colegas de equipa.

“Ele praticamente cresceu sozinho. Lembro-me que ele foi assaltado algumas vezes e houve um dia que ele estava triste porque lhe tinham roubado os cromos. Não sei se ele chorou, mas nos treinos e nos jogos era sempre um miúdo alegre”, conta Jaime Lima Leite. No campo, acrescenta, ele era o craque: “Sempre foi o melhor marcador. Era o ganha-pão da equipa, levava a equipa às costas.”

Foto
Pedro Gonçalves passou cinco anos na formação do Sp. Braga DR

Foram cinco anos nos escalões de formação do Sp. Braga, de onde saiu rumo ao Valência e sem qualquer compensação para os minhotos porque, conta Jaime Lima Leite, foi inscrito pelo Palmeiras (clube da região que funciona como satélite do Sp. Braga para a formação). Quando o contrato com os minhotos chegou ao fim, mudou-se para a formação do Valência, que, na altura, tinha um núcleo bastante numeroso de portugueses (Nuno Espírito Santo como treinador, mais Guedes, Cancelo e Vezo no plantel).

Depois de duas épocas em Espanha, seguiu para o Wolverhampton (também com muitos portugueses), cumprindo dois anos quase sempre na equipa de reservas, e com uma breve aparição na equipa principal (30 minutos num jogo da Taça da Liga, em 2018). Sem grande espaço para crescer em Inglaterra, apresentou-se ao futebol português como uma das grandes figuras da bonita história que foi o regresso do Famalicão à I divisão em 2019-20 - a equipa minhota chegou a liderar o campeonato durante algumas jornadas e esteve em posição europeia quase até ao fim.

“Pote” marcou nessa época sete golos (entre eles, um ao Benfica, outro ao FC Porto) e era evidente o seu talento para desafios maiores. O Sporting chegou-se à frente, pagando ao clube minhoto 6,5 milhões por 50 por cento do passe e, poucos meses depois, sabe-se lá quanto poderá custar a outra metade. Mas o rendimento superlativo não surpreende quem o conhece.

Jaime Lima Leite reconhece no n.º 28 do Sporting o miúdo que certo dia lhe apareceu à frente para treinar à experiência. “Ele faz agora o que fazia antes. Foi sempre um desequilibrador. Com ele os adeptos do Sporting já se lembram menos do Bruno Fernandes”, diz o treinador, emocionado a falar do seu antigo pupilo, acrescentando que está numa situação ideal para ele nos “leões”, com um treinador que sabe qual é a melhor forma de o utilizar, e que não faltará muito para chegar à selecção principal.

Em Vidago, continua a ser o “Potinho”, um distinto filho de uma terra que pára quando joga o Sporting, como já parava quando jogava o Famalicão. “É muito entusiasmante para nós”, acrescenta Paulo Lopes, presidente do Vidago. Pedro Gonçalves continua a ser o “rapaz humilde e recatado” que conheceu, agarrado às suas origens mesmo depois de cedo ter ido para longe. Aos Bombeiros Voluntários de Vidago e ao Hospital de Chaves, e em conjunto com o seu empresário Jorge Pires, ofereceu, em Abril passado, um ventilador, 2500 máscaras e 50 fatos de protecção.

Foto
Pedro Gonçalves esteve uma época no Famalicão antes de ir para o Sporting DR

E os seus amigos mais próximos são aqueles que o acompanharam nos anos em que estava sozinho mas bem acompanhado em Braga. Palavra final a Jaime Lima Leite, cuja proximidade com Pedro Gonçalves permite que se tratem como “pai e filho”. Tudo o que tem e que vai ter, diz, é merecido: “Ele passou muito na vida. Veio do nada. O Pedro é daqueles de quem se diz ‘este merece’.”

Sugerir correcção